Na região central, há 10 projetos de iniciativa popular que propõem a redução do salário dos vereadores, alguns incluem prefeito, vice e secretariado. Mas o que há por trás desse tipo de proposta? Obviamente, o desgaste escancarado da classe política. Porém, por mais paradoxal que seja, também é uma tentativa de moralizar mais o poder e, assim, trazê-lo para mais perto da população. Ainda há quem lance a ideia com interesse político-partidário, em surfar nessa onda para projetar seu nome no pleito municipal de 2016.
A classe política vive um saldo negativo de credibilidade. A população que, habitualmente, torcia o nariz para temas relacionados à seara da política, agora, tem se mostrado desconfiada e, mais, vigilante quanto ao tema. Exemplo disso são os projetos de iniciativa popular que miram nos salários da classe política.
Em Santa Maria, maior município da Região Central, há duas propostas que visam o corte de salários de vereadores _ uma de iniciativa de um jornalista e, a outra, de um filiado à Rede Sustentabilidade.
Ainda na região, há mais dois projetos com a presença de partidos _ São Vicente do Sul (com um filiado ao PTB) e Rosário do Sul (com uma militante do PP). Mas também há vereadores que apoiam a redução dos próprios vencimentos: Cacequi, Formigueiro e São Gabriel. Em outras quatro cidades, o projeto é capitaneado pela população _ Agudo (um empresário), Caçapava do Sul (uma professora), Júlio de Castilhos (um advogado) e Santiago (por um estudante)
Um reflexo de cima
O cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Kramer avalia como válida a participação da população com iniciativas deste tipo. Contudo, ele ressalva que em se tratando de política "não há ingênuos":
_ O cidadão comum está saturado da classe política. O que ele pode fazer? Escolher o menos ruim na próxima eleição.
Kramer diz que todo o corte impacta, sim, positivamente às finanças dos municípios:
_ As Câmaras são um microcosmo de Brasília e das Assembleias Legistivas. O pensamento é aquele: se lá em cima não cortam, então, por que cortar por aqui? Mas há excessos, sim, de gastos nas Câmaras.
Representatividade tem seu custo
Os especialistas concordam que o foco da população deveria ser outro: na eficiência e na produtividade dos parlamentares. Eles não minimizam a questão financeira. Inclusive, eles reconhecem que há excessos _ seja no uso de diárias, como também da máquina pública.
_ É aquela velha dicotomia: viver da política ou viver para a política? É preciso se ter um meio termo. A representatividade tem seu custo _ diz o cientista político da UFSM José Carlos Martinez.
O professor da Unipampa e cientista político, Guilherme Howes, sustenta que a redução salarial "reduzirá o ingresso de pessoas qualificadas e competentes na política":
_ Cabe à classe política adotar medidas moralizantes. Mas há quem queira jogar para a torcida em período pré-eleitoral.
É necessário que 5% dos eleitores assinem a proposta, conforme a Lei Orgânica dos municípios. Após isso, as matérias devem ser apreciadas, obrigatoriamente, pelos vereadores. As medidas, em caso de aprovação, serão válidas para próxima legislatura (2017-2020).