O papa Francisco expressou apoio aos esforços de paz na Síria e na Líbia, ao mesmo tempo em que pediu bênçãos abundantes para as pessoas e Estados que recebem migrantes, na mensagem de Natal, na qual também condenou os atos terroristas dos últimos meses.
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Na tradicional mensagem "Urbi et Orbi" (à cidade e ao mundo), o pontífice pediu que o acordo alcançado dentro das Nações Unidas consiga calar o barulho das armas na Síria o quanto antes.
- É igualmente urgente que o acordo sobre a Líbia encontre o apoio de todos - sublinhou o pontífice, a respeito das resoluções do Conselho de Segurança da ONU que se esforçam para restabelecer a paz nos dois países.
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A paz foi uma das palavras mais repetidas na mensagem, depois de um ano marcado pela ameaça jihadista.
Como em cada Natal, Francisco falou para dezenas de milhares de fiéis reunidos na praça de São Pedro. Milhões de católicos acompanharam a mensagem pela TV em todo o mundo.
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Na terceira mensagem de Natal de seu pontificado, Francisco denunciou os atos terroristas e a destruição do patrimônio histórico e cultural de povos inteiros.
- Quero recordar também quantos foram atingidos pelos atos terroristas atrozes nos recentes massacres ocorridos - disse o Papa, se referindo aos ataques no Egito, Beirute, Paris, Bamako e Tunísia.
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O pontífice pediu ainda o fim das atrocidades no Iraque, Iêmen e na África subsaariana.
- Além das numerosas vítimas, provocam enormes sofrimentos e não respeitam nem sequer o patrimônio histórico e cultural de povos inteiros.
Diante da violência que afeta a Cisjordânia, Francisco pediu que palestinos e israelenses retomem um diálogo direto para superar um conflito de graves consequências para o Oriente Médio.
- Onde nasce Deus, nasce a paz. E donde nasce a paz, não há lugar para o ódio, nem para a guerra. No entanto, justamente onde o Filho de Deus veio ao mundo, continuam as tensões e as violências, e a paz fica como um dom que se deve pedir e construir.
Francisco se referia à cidade de Belém, na Cisjordânia, onde segundo a tradição cristã a Virgem Maria deu à luz Jesus.
- Que os israelenses e palestinos possam retomar o diálogo direto e alcançar um entendimento que permita aos dois povos conviver em harmonia, superando um conflito que enfrentam há tanto tempo, com graves consequências para toda a região - pediu Francisco.
Como virou tradição, o papa insistiu para que as sociedades ocidentais abram as portas aos migrantes e refugiados.
- Que sejam recompensados com abundantes bênçãos todos aqueles, pessoas privadas ou Estados, que trabalham com generosidade para socorrer e receber os numerosos emigrantes e refugiados, ajudando em sua integração.
O papa argentino também aproveitou a oportunidade para falar sobre a situação na Colômbia.
- Que a alegria deste dia ilumine os esforços do povo colombiano para que, estimulado pela esperança, continue buscando com afinco a almejada paz.
A guerrilha das Farc e o governo da Colômbia iniciaram há três anos um diálogo para acabar com meio século de conflito armado. Há alguns dias, anunciaram um acordo importante, sobre a reparação das vítimas, algo vital para o fim da guerra.
Ainda, o Papa não se esqueceu dos cristãos perseguidos por causa de sua fé em diversas partes do mundo.
Os conflitos e tensões no Iraque, Iêmen, República Democrática do Congo, Burundi, Sudão do Sul e os esforços de paz na Ucrânia foram temas citados na mensagem, concluída com uma bênção solene e uma indulgência geral.
Oportunidade para lembrar os desamparados
A mensagem Urbi et Orbi é uma oportunidade para denunciar a cada ano os conflitos e a situação dos desamparados, como os migrantes.
Não muito longe de Roma, nas últimas horas, 370 migrantes desesperados para chegar à Itália foram resgatados nas costas da Líbia, mas outros 18 morreram em um naufrágio na Turquia.
A violência e o medo de atentados representam um denominador comum do fim de ano em várias regiões do mundo. Na Somália, o governo proibiu as celebrações de Natal, alegando que poderiam provocar ataques dos islamitas shebab.
O medo afetou a Europa, e não apenas Paris, onde atentados reivindicados pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI) deixaram 130 mortos em novembro.
Número menor de fiéis
Nos arredores do Vaticano, o número de peregrinos era menor que em anos anteriores.
Os proprietários de restaurantes reclamam da temporada de fluxo menor, apesar do Jubileu da Misericórdia aberto em 8 de dezembro. As imediações do Vaticano estão repletas de soldados e policiais.
Na homilia da Missa do Galo, na Basílica de São Pedro lotada, Francisco pediu aos católicos que cultivem a justiça e sejam sóbrios.
- Em uma sociedade frequentemente embriagada pelo consumo e os prazeres, de abundância e luxo, de aparência e narcisismo, Ele nos chama a ter um comportamento sóbrio, simples, equilibrado, linear, capaz de entender e viver o que é realmente importante - explicou Francisco.
* AFP