O dia em que Odilaine Uglione, mãe de Bernardo Uglione Boldrini, morreu será reproduzido pelo Instituto-geral de Perícias (IGP) a partir de versões contadas por 12 pessoas: 11 testemunhas e um investigado pelo suposto homicídio, o médico Leandro Boldrini, que era marido de Odilaine à época.
Cada cena relatada será registrada em fotos, que depois vão compor o relatório da perícia. Dois peritos e um fotógrafo do IGP vão realizar o trabalho chamado Reprodução Simulada dos Fatos (RSF) na terça e quarta-feira, no prédio onde Boldrini mantinha sua clínica particular, no centro de Três Passos.
A Justiça determinou isolamento total da região. A clínica, que funcionava no Centro Clínico São Mateus, foi fechada meses depois da prisão de Boldrini. Portanto, o local onde Odilaine foi baleada não existe mais com as mesmas características.
Atualmente, funciona outro estabelecimento na salas (um consultório e uma antessala) que eram usadas por Boldrini. Ainda assim, o local será cenário de parte da reprodução simulada (também conhecida como reconstituição), pois a partir de fotos da época, peritos vão tentar adequar o local ao que era na data do fato. Outra sala do prédio, com características semelhantes às das salas de Boldrini será usada durante o trabalho pericial.
As 12 pessoas que estiveram envolvidas com o fato, ocorrido em 10 de fevereiro de 2010, darão seus depoimentos aos peritos (tudo é gravado em áudio). Essas pessoas também já foram ouvidas pela polícia. Os depoimentos já prestados e outros materiais da investigação servem de base de estudo para os peritos que atuarão no caso.
Depois de falar aos peritos, as testemunhas e o suspeito têm de reproduzir o que contaram, ou seja, mostrar detalhes das cenas que dizem ter presenciado. Essa etapa é toda fotografada. Cada um é ouvido e reproduz sua versão individualmente.
Policiais civis ocupam o lugar de outras pessoas que compõem as cenas descritas pelas testemunhas. Por exemplo: se uma testemunha diz que estava na sala de espera quando Odilaine entrou no local e que naquele momento havia outras três pessoas na sala, policiais farão o papel de Odilaine e das outras três pessoas.
Isso ocorre para evitar a influência da versão de uma testemunha em relação a outra e também para que não surjam durante o trabalho no local divergências entre quem está falando. Eventuais divergências serão estudadas em momento posterior da perícia.
O trabalho deve durar dois dias justamente pelo grau de detalhes a serem apurados e pela quantidade de pessoas envolvidas. A participação de Boldrini está prevista para a tarde de quarta-feira.
Entre as 11 testemunhas, estarão pessoas que estavam na antessala esperando para consultar com Boldrini, a então secretária da clínica e também outras que ajudaram no socorro depois de ocorrido o fato.
Todas as etapas do trabalho em Três Passos são acompanhadas pelo delegado Marcelo Lech, que conduz desde maio a nova investigação sobre a morte de Odilaine. A reprodução simulada será conduzida por peritos criminais da Seção de Perícias em Áudio e Imagens (Sepai). Ainda não há prazo para a conclusão do relatório da reprodução.
Peritos vão comparar versões
A partir de todos os dados coletados na Reprodução Simulada (reconstituição) em Três Passos tem início uma segunda etapa do trabalho.
Os depoimentos são analisados e comparados pelos peritos para verificar o que é compatível e o que é divergente nas versões apresentadas. Também é feita a comparação dos relatos com evidências que já estão documentadas em laudos de outras perícias, feitas à época da morte de Odilaine Uglione ou recentemente, depois de reaberta a investigação.
As versões podem ser comparadas, por exemplo, com o que foi apurado na perícia feita no consultório no dia do disparo, com o que consta na necropsia de Odilaine e com exames de balística.
Uma perícia que vai "conversar" com a Reprodução Simulada dos Fatos feita em Três Passos é a que trata da reconstrução do crânio de Odilaine, em imagem tridimensional (3D), também realizada pela equipe da Seção de Perícias em Áudio e Imagens, de forma inédita.
O crânio de Odilaine foi reconstruído para que, a partir de vestígios, se apure como foi feito o disparo. Com isso, é possível verificar as hipóteses de suicídio e de homicídio.
A MORTE DE ODILAINE
- Odilaine Uglione morreu às 18h50min do dia 10 de fevereiro de 2010, no hospital de Três Passos, horas depois de supostamente atirar contra a própria cabeça, dentro do consultório do marido, o cirurgião Leandro Boldrini.
- Testemunhas viram Odilaine chegar nervosa e entrar na sala para esperar Boldrini.
- Conforme o relato de testemunhas à época, Boldrini saiu correndo da sala e um tiro foi ouvido. Outras testemunhas, no entanto, disseram primeiro ter ouvido tiro e depois, visto o médico sair da sala.
- A investigação da morte foi arquivada com a conclusão de suicídio.
- Depois que Bernardo Uglione Boldrini, filho de Odilaine e de Leandro, foi morto, em abril de 2014, e o pai e a madrasta surgiram como suspeitos do crime, a família de Odilaine passou a tentar reabrir o caso de 2010, sustentando a tese de homicídio.
- A Justiça negou os pedidos até que uma perícia particular indicou que a carta de despedida, encontrada na bolsa de Odilaine, não teria sido escrita por ela, mas sim por uma funcionária de Boldrini à época.
- Assim que o resultado da perícia particular foi tornado público, a funcionária registrou ocorrência por calúnia e forneceu material escrito para que a perícia oficial fizesse a comparação com a carta de suicídio. Essa perícia ainda está em andamento.
- Em maio, o Ministério Público se manifestou pela reabertura do caso e o pedido foi acatado pela Justiça.
- O delegado Marcelo Lech foi designado para conduzir a nova investigação sobre as circunstâncias da morte de Odilaine.