Neste Natal, fiquei ouvindo as crianças aqui da minha comunidade aguardando os últimos minutos do dia 24 para o 25 de dezembro. Na rua, pequenos de quatro a 12 anos. A diversão era, pelo som, saber o que era tiro ou fogos de artifício. As explicações eram as mais diversas, desde o ecoar do som até o cheiro que deixava no ar. No momento da virada, eles entraram em um estado de euforia com os estouros que invadiam o ouvido, assustavam os cachorros e abafavam o porquê de tudo aquilo que chamavam de Natal.
Boa parte deles não acredita em Papai Noel. Entendo eles. Muitos sequer conheceram o próprio pai. No fim das contas, se nem o papai que os colocou no mundo existe, que dirá o tal do Noel! Essa ausência dói, essa dor dos Natais invisíveis é aplacada com um funk tocando bem alto. Os adultos próximos também tentam amortecer as próprias dores com brindes perdidos no ar.
Sem tristeza
Mas nem tudo é tristeza. Da minha janela, vi casas com portas fechadas e, de relance, pude ver um abraço. Depois, estas pessoas saíram do meu campo de visão, mas foi o suficiente para saber que o Natal estava vivo ali.
Apesar da matemática social jogar contra, tem pai que se faz Noel e consegue dar ao filho durante o ano aquilo que talvez só seja compreendido por ele na vida adulta.
Apesar de muitos ficarem frustrados porque não veio o videogame ou tablet que queriam, o "Noel da marmita" dá o que é mais importante: amor. Afinal, é disso que fala o Natal. No fim das contas, mais vale ter um papai na vida do que um Noel no Natal.