*Zero Hora
Uma tecnologia produzida no Rio Grande do Sul ajuda a acelerar o processo de purificação da água em Governador Valadares - município mineiro do Vale do Rio Doce que foi atingido pelos rejeitos das barragens de Fundão e Santarém. É o polímero de acácia negra, um coagulante líquido que acelera em até 40 segundos o processo de decantação da lama presente na água.
A substância foi desenvolvida e aprimorada durante as últimas três décadas pela empresa gaúcha Tanac, com sede em Montenegro, no Vale do Caí. E está sendo utilizada pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Governador Valadares desde o início desta semana, possibilitando a retomada da captação da água com barro do Rio Doce.
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Zero Hora conversou com diretores da Tanac e com Antônio Mangrich, um dos químicos pesquisadores do polímero da acácia negra no país. Entenda, abaixo, como o produto separa a lama da água e que condições favoreceram para que ele fosse desenvolvido no Rio Grande do Sul.
O que é um polímero?
Polímeros são macromoléculas, formadas pela repetição de moléculas menores, os monômeros. O polímero empregado no tratamento de água é obtido a partir de monômeros naturais do extrato aquoso da casca da Acácia Negra. A planta tem origem australiana e, no Brasil, é cultivada principalmente no Rio Grande do Sul e também serve para a produção de carvão. A empresa gaúcha Tanac S. A. possui plantações em mais de 25 mil hectares (algo próximo a 30 mil campos de futebol) e trabalha com mais de 35 mil famílias produtoras em 200 municípios.
Por que o Estado que mais cultiva a acácia negra é o RS?
A planta se desenvolve bem em áreas próximas ao paralelo 30°, que passa em regiões do Chile, Argentina, África do Sul e Austrália. No Brasil, o único Estado cortado pelo paralelo é o Rio Grande do Sul, onde a acácia negra se desenvolve melhor.
Como o coagulante é extraído da planta?
O processo começa com o uso de grandes autoclaves (aparelhos de aquecimento de líquidos e indução de reações químicas sob pressão, utilizando temperaturas elevadas) que operam na extração do tanino da casca da acácia negra - na planta, a função da substância é proteger caule e folhas contra o ataque de herbívoros. Do tanino são retirados os monômeros, que produzirão o polímero. Após a extração, a casca esgotada é em parte destinada à compostagem para a produção de fertilizante orgânico e, o restante, usado na própria fábrica para queima, produção de vapor e geração de energia elétrica.
Como o polímero atua na decantação da lama?
Segundo o doutor em Química e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Antonio Mangrich, a substância interage com o material inorgânico que está em suspensão (óxidos e hidróxidos metais e argila), tornando-o mais compacto e "pesado". Isso faz com que a lama presente na água vá para o fundo (decantação). A vantagem do polímero em relação a outros produtos, conforme ao pesquisador do assunto, é o fato de ser orgânico (e não trazer prejuízos para a saúde) e de custo médio, se comparado com outras tecnologias.
Onde e quando surgiu a tecnologia?
De acordo com o diretor-superintendente da Tanac, Otávio Guimarães Decusati, o produto (TANFLOC SG) foi criado dentro dos laboratórios da empresa em 1983 - mais tarde, sucessivos aprimoramentos levaram à novas gerações do polímero. Conforme o diretor, a Tanac é a única empresa no mundo detentora da patente para a produção da substância. Atualmente, o produto é vendido para mais de 20 países e certificado por entidades norte-americanas, europeias e brasileiras.
Quais são as garantias do produto?
Segundo a Tanac, o TANFLOC SG é registrado no REACH (Registration, Evaluation, Authorisation and Restriction of Chemicals) e possui certificações NBR 15784, NSF/ANSI 60, ISO 9001, ISO 14001, FSC®, Kosher e Halal.
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Vídeo publicado na página da prefeitura de Governador Valadares no Facebook mostra como se dá o processo de decantação:
Posted by Prefeitura de Valadares on Sábado, 14 de novembro de 2015
A ÁGUA É POTÁVEL E DE QUALIDADE, SIM!A partir de segunda-feira, dia 16, o SAAE volta a abastecer as casas de Valadares. Até o fim da próxima semana o abastecimento será normalizado. Desde o desastre em Mariana, não estamos medindo esforços pra isso.Será usado um produto que consegue separar a lama (decantar) para que a água volte a ser tratada e distribuída à população. O reagente se chama polímero de acácia negra. Depois de experimentado o produto, foram feitos todos os testes, em Belo Horizonte, que asseguram a qualidade da água tratada. O governador do estado, Fernando Pimentel, trouxe em mãos os laudos que atestam o sucesso do processo. A análise garantiu também que não há metal pesado (tóxico) na água. A turbidez da água do rio, que havia chegado a 131 mil NTU durante a semana, chegou hoje a 2400 NTU. O tratamento normal acontece com níveis de turbidez em 1000 NTU.