Não foi desta vez que a facção Bala na Cara, de Porto Alegre, conseguiu se estabelecer em Santa Maria. A Delegacia Especializada em Furto, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec), em parceria com o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), desencadeou, na manhã de segunda-feira, a Operação Palco, com o cumprimento de 24 mandados de busca e apreensão em sete cidades gaúchas, 12 deles em Santa Maria, e 21 de prisão, quatro na cidade.
O principal investigado é o assaltante de carros-fortes José Carlos dos Santos, o Seco, que, com a ajuda de Edson Marcos Silva da Rosa, o Tucano, que é de Santa Maria, planejava dominar o tráfico de drogas após tomar o Beco da Tela, na Vila Schirmer, bairro João Goulart, na região nordeste de Santa Maria.
Áudio: Seco comanda ações de dentro da Pasc
Conhecido pelos ataques a carros-fortes, Seco diversificou os seus crimes depois que foi preso, em 2006. Em 2014, Seco já havia recebido outra ordem de prisão por ordenar roubos, furtos e clonagem de veículos. Com o apoio de Edson Marcos Silva da Rosa, o Tucano, Seco, que é de Candelária, viu em Santa Maria boas oportunidades de "negócios". Segundo o delegado Sandro Meinerz, responsável pela investigação, em algumas conversas telefônicas interceptadas, Seco afirmou que a cidade tinha "muito potencial".
- Em um determinado momento, ele (Seco) falou que o mercado era bom. Santa Maria tem um grande mercado consumidor e distribuidor e não existe um líder, o tráfico é fracionado, e essa seria uma brecha. Não sabemos se a ideia era dominar todo o município ou só aquele território do Beco da Tela - diz o delegado.
Conforme Meinerz, foi constatado que o grupo tinha intensa movimentação. Seriam pelo menos três quilos de cocaína e crack trazidos por semana para Santa Maria, a maioria de ônibus, mas também de carro. O delegado considera Seco um empresário do crime, que usa a Pasc como seu escritório, e lamenta a fragilidade do sistema prisional e o retrabalho que isso causa à polícia:
- A situação é desanimadora. O sistema compromete. No Brasil todo é assim. Enquanto não bloquearem completamente o sinal do celular, vai continuar nisso.
O sistema da Facção
- O grupo pretendia alimentar a rede "atacadista", fornecendo drogas para quem possui pontos de vendas e comercializam diretamente ao consumidor final
- Quando falta droga, alguns se abastecem de outros traficantes, que vendem ou até emprestam drogas, respeitando seus pontos de vendas
- Outras vezes, se o "dono do ponto" mostra fragilidade, provoca a invasão de territórios por outros traficantes, culminando em verdadeiras guerras, que acabam em homicídios
- Quando há perdas, se o produto estragou ou a polícia apreendeu, a dívida tem que ser quitada. No entanto, o proprietário da droga concede mais tempo para o pagamento. Porém, quando o devedor não dá notícias, a dívida é quintada com sangue
- Os grupos contam com muitos integrantes, já que os "patrões", na maioria das vezes, estão presos e dependem do auxílio de terceiros, pois não conseguiriam entregar a droga se não houvesse as chamadas "mulas", que fazem o transporte do entorpecente
- No fim da cadeia, existem os laranjas, que são fundamentais para a movimentação financeira do grupo
Veja como era o esquema liderado por Seco: