Quase um mês após a morte do haitiano Fetiere Sterlin em Navegantes, a Polícia Civil mudou a conclusão sobre a motivação do assassinato: agora, ao invés de crime passional - a versão levantada depois que um adolescente de 17 anos confessou liderar as agressões -, o inquérito assinado pelo delegado Rodrigo Coronha relata que o imigrante foi morto após uma troca de insultos. Coronha encaminhou o documento ao Ministério Público, que irá analisar o conteúdo.
- Apontamos que foi a troca de insultos entre eles que motivou a morte, não dá para dizer se foi crime de ódio - explica.
Anteriormente, o jovem que assumiu o assassinato contou à polícia que o haitiano teria assediado sua namorada e que os dois teriam discutido. Como Fetiere estaria em um grupo maior, o adolescente teria reunido alguns amigos e retornado ao local onde estavam os imigrantes, no bairro Nossa Senhora das Graças, para um acerto de contas. Essa versão não foi confirmada, segundo o delegado.
Leia mais sobre o caso:
Polícia Civil investiga suposto crime de ódio em Navegantes
Polícia busca imagens para identificar autores do assassinato de haitiano
IML libera corpo de haitiano assassinado em Navegantes
Polícia identifica cinco suspeitos de participação na morte de haitiano
Coronha afirma que a namorada do adolescente foi ouvida e relatou que não estava com ele no dia do homicídio, nem que houve o suposto assédio.
- No inquérito informamos que houve troca de insultos entre os dois grupos. Uma testemunha também afirmou que os agressores chamaram os haitianos de "macici" (gíria para homossexual em crioulo) - comenta.
A história que o adolescente contou à polícia era contestada desde o início pela mulher de Fetiere, Vanessa Nery Pantoja. De acordo com ela, apenas homens haviam passado por eles no dia do assassinato.
- Estou acompanhando junto com o Ministério Público e procurando um advogado, pois queremos que a tese do racismo e da xenofobia seja incluída - conta Vanessa.
O inquérito aponta ainda como suspeitos do crime um homem de 24 anos, que está preso, e quatro adolescentes, de 17, 16, 15 e 14 anos - todos apreendidos em Centros de Atendimento Socioeducativos Provisórios (Caseps) do Estado.
Protesto em Navegantes
Um grupo de haitianos fez uma manifestação contra o racismo e a xenofobia em Navegantes na última semana. O movimento, encabeçado por seis entidades do Estado, reuniu cerca de 20 pessoas em frente ao acesso do ferry boat. Eles entregaram à população uma carta de repúdio pelo assassinato de Fetiere Sterlin.
O presidente do Conselho Estadual de Populações Afrodescendentes (Cepa), José Ribeiro, afirma que o objetivo era chamar a atenção da população e marcar o posicionamento da entidade contra esse crime. O grupo também esteve no Ministério Público para verificar o andamento do inquérito sobre o homicídio.
Opinião Dagmara Spautz: a morte de Fetiere e o ódio nosso de cada dia
A carta entregue aos moradores enfatiza que Fetiere foi vítima de crime racial e xenofóbico e pede punição aos envolvidos em seu assassinato. O texto afirma ainda que as vítimas desses crimes muitas vezes não são amparadas pelas autoridades e que os responsáveis quase sempre ficam impunes. Conforme Ribeiro, após a manifestação o grupo conversou com o promotor responsável pelo caso para que a Justiça reconheça os crimes de ódio que envolveram o assassinato de Fetiere.
- A ausência do reconhecimento desses crimes só agrava o problema da discriminação e preocupa, pois precisa haver um debate sobre essas questões - completa.
Violência
Polícia Civil muda conclusão sobre morte de haitiano em Navegantes
Inquérito que investiga homicídio de Fetiere Sterlin diz agora que crime foi motivado por troca de agressões
Maikeli Alves
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project