Quatro meses após o crime, tudo indica que a investigação do assassinato da menina Ana Clara Benin Adami, 11 anos, deve ser concluída como uma tentativa frustrada de assalto, cujo principal suspeito está morto. Ainda que essa seja a hipótese da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), o inquérito policial não deve ser encerrado neste ano.
Principal suspeito de assassinar menina Ana Clara está morto
O titular da DPCA, delegado Joigler Paduano, diz que há diligências a cumprir e não dá mais detalhes do caso. A menina levou um tiro na Rua Marcos Moreschi, no bairro Pio X, enquanto seguia com uma amiga para a catequese na tarde do dia 16 de julho. Morreu horas depois no hospital.
- Para nós, a polícia diz que só vai encerrar o inquérito quando ficar dois, três meses sem surgir nenhuma informação nova - diz a mãe de Ana Clara, Márcia Elisa Benin.
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O principal suspeito chegou a prestar depoimento na Polícia Civil sobre outro crime. Questionado sobre a morte da menina, negou envolvimento e teve de ser liberado por falta de provas. Nesse meio tempo, foi reconhecido por duas testemunhas - a menina que acompanhava Ana Clara no dia do assassinato e uma pessoa que o viu correr nas imediações. Depois disso, desapareceu e foi encontrado morto dias depois. O nome do suspeito está preservado porque o inquérito segue em aberto e não há qualquer indiciamento. Os agentes teriam chegado até ele com o auxílio de informantes. Na época, casos de assaltos na região do Pio X estariam sendo cometidos por uma dupla de criminosos. Ambos foram identificados. A DPCA não confirma oficialmente as informações e diz que o nome do suspeito chegou à polícia por meio de denúncias anônimas.
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Inicialmente, o caso foi tratado como homicídio, já que em seu primeiro depoimento, a amiga que caminhava com Ana Clara disse que o homem que atirou contra a garota havia passado por elas, olhado para trás e disparado. Aliado a isso, a polícia investigava supostas ameaças que a vítima teria recebido pelas redes sociais.
A mudança do depoimento da testemunha, que admitiu que apenas escutou o tiro e não viu o momento do disparo, somado ao resultado da perícia, que constatou que o tiro foi dado pelas costas, pegou a região lombar, atravessou o corpo e saiu pelo abdômen, reforçaram para a polícia a tese de tentativa de assalto. A análise das redes sociais não revelou nenhuma intimidação. A hipótese de um mandante para o crime está descartada pela polícia.
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'Terão que provar que foi ele'
Desde o início das investigações, a família acreditava na tese de assalto frustado: o criminoso viu nas duas garotas a oportunidade de um roubo. E crê que as suposições levantadas de homicídio envolvendo ameaças atrapalharam a apuração e afastaram possíveis testemunhas.
- Essa história da ameaça foi muito falada. Até hoje, quem não nos conhece acha que tem alguma coisa. Ela não era uma garota que vivia na rua, que tinha más companhias. Nós sempre trabalhamos para dar o melhor para ela, matricular em uma escola particular, garantir uma boa educação. Acreditamos que foi um assalto porque não há motivo. Só que a polícia vai ter que provar muito bem que foi esse homem que está morto que tentou esse roubo. Queremos a certeza de que foi ele - afirma o pai, Sérgio Olivo Adami.
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O supeito de matar Ana Clara tem passagens na polícia como adolescente infrator e recentemente havia sido absolvido da acusação de dupla tentativa de homicídio. Era investigado pelo envolvimento com o tráfico de drogas. Também foi vítima de tentativa de homicídio há dois anos. É provável que tenha sido assassinado em um acerto de contas com desafetos, cuja investigação segue em andamento.
A morte dele, porém, não tranquiliza os pais da menina, que se apegam na frase escrita por ela em um trabalho escolar sobre a pena de morte: "Eu não concordo (com a pena de morte), pois imagine se fosse o seu filho que seria morto. Claro que ele fez errado de cometer um crime, mas eu acho que a prisão já é o suficiente".
- Queria um julgamento, poder olhar para ele e perguntar "por quê"? Por que tu foi assaltar duas meninas com um revólver? Elas não iriam reagir! O que aconteceu naquele dia? Ele viu que elas estavam quase na esquina e se afobou, ou será que estava sob efeito de entorpecentes? Eu não sei. Talvez a gente nunca saiba - desabafa Márcia.
Nesta segunda-feira, haverá uma missa em memória dos quatro meses da morte de Ana Clara na igreja do Pio X. A cerimônia ocorre às 18h.