O primeiro debate da história das eleições presidenciais argentinas ocorreu no domingo passado, mas, nas redes sociais, ainda não acabou. Na TV, apesar da expectativa gerada na população, foi um confronto sem confrontos, em que um e outro apenas repetiram palavras já conhecidas dos eleitores. Na internet, o embate se intensificou entre as candidaturas.
Os analistas são unânimes ao dizer que tanto o governista, o peronista conservador Daniel Scioli, quanto o oposicionista, o liberal conservador Mauricio Macri, falaram para seus públicos cativos, em vez de arriscar um discurso que saia da curva. Nesta quinta-feira, em uma Buenos Aires sob intensa chuva, a aparência é de que nem se decide a presidência do país.
ZH conversou com oito pessoas, e todas elas disseram exatamente o mesmo: a Argentina precisa passar por mudanças, e os dois candidatos que se apresentam no segundo turno estão longe de empolgar.
Macri, que é o atual governador da província de Buenos Aires, e Scioli, atual prefeito da cidade de mesmo nome (a capital federal), são até amigos. Ambos vêm de famílias ligadas ao setor empresarial. Também ambos devem o ingresso na política a suas atuações na área esportiva.
O Giacobbe & Associados, instituto de pesquisas, informa que Macri tinha 49% das intenções de voto e Scioli 42% antes do embate.
– Sinto que nada mudou depois, porque ambos estão jogando para seus eleitores. Não buscam o eleitor diferente – diz Jorge Giacobbe Filho, do instituto, esclarecendo que os indecisos são 5%.
– Quem vota em Scioli tem fobia a Macri, e vice-versa. O debate não mudou isso – diz Giacobbe Filho.
– O programa foi importante para a evolução da democracia argentina, mas não mudou opiniões de forma importante – diz o historiador Rosendo Fraga, para quem Macri é o favorito.
Macri e seus aliados têm mantido o silêncio típico de quem não quer mexer no que está dando certo. Scioli usa as redes sociais para tentar uma virada, demonstrando, em algumas situações, o desespero de quem vê a derrota se aproximar – depois de ter sido considerado favorito no primeiro turno.
Os apoiadores de ambos atuam como torcedores de futebol. Quem menciona Scioli o faz para dizer que perdeu o debate e a eleição. Quem menciona Macri fala da suposta ameaça que representa e que, no final, sairá derrotado. A conclusão é da consultoria Es Viral.
Pesquisas apontam Macri como favorito
Todas as mais recentes pesquisas dão Macri como favorito. O que Scioli tem feito para reverter o jogo? A tática do medo: vincula Macri aos problemas econômicos do país nos anos 1990, uma época em que o governo gerou a mais grave crise já vivida pelos argentinos. Macri se limita a dizer que vai mudar, mas mantendo os programas sociais.
O desespero de Scioli ficou mais nítido quando seus aliados apelaram ao perfil oficial do governo nas redes sociais. A Casa Rosada no Twitter e no Facebook postou o seguinte comentário: "Preço do dólar oficial: $ 9,60 (pesos). O dólar a $ 15, como antecipa Macri, produziria desvalorização de 67%". Claro, a oposição criticou o uso do expediente.
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