O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista exibida nesta quarta-feira na Globo News, que o diálogo do governo com a oposição depende da presidente Dilma Rousseff (PT).
Perguntado pelo jornalista Roberto D'Avila, se é o governo que tem que puxar essa iniciativa, Lula respondeu:
- Obviamente.
O petista também defendeu a necessidade de levar uma "proposta concreta" e de "certo respaldo" para a negociação.
- Se você conversar uma vez e não tiver uma proposta concreta, você desmoraliza a proposta política - argumentou.
Ao longo da entrevista, ele salientou que já teve uma boa relação com o PSDB, citando o apoio petista às candidaturas vitoriosas do tucano Mário Covas (1930-2001) ao governo de São Paulo em 1994 e 1998. Outro exemplo foi o apoio recebido do PSDB para a candidatura da então petista Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo em 2000, também vitoriosa.
Reforma política
Ao longo dos cerca de 30 minutos de exibição da entrevista, Lula também defendeu que uma reforma política no Brasil não sairá do Congresso, mas sim de uma Assembleia Constituinte exclusiva.
- A reforma política não sairá se a gente ficar dependendo do Congresso. Vou dizer em alto e bom som: só haverá reforma política se houver uma Constituinte exclusiva para isso. Se for feita dentro do Congresso, todos, sem distinção, vão legislar em causa própria.
Lula comentou o assunto logo depois de ser questionado sobre o envolvimento de políticos do PT no Mensalão e nos crimes investigados na Operação Lava-Jato. Para o ex-presidente, a descoberta dos crimes na Petrobras foi "um susto", mas poderá ter boas consequências:
- A investigação (da Lava-Jato) está fazendo com que o país sonhe que um dia este país será mais sério. O país está preparado para isso, doa a quem doer - afirmou.
Levy
Sobre os rumores de que apoia a substituição do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, por Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, respondeu que Levy "é um problema da presidente". Além disso, ironizou sua suposta influência nos rumos do atual mandato.
- Todo mundo sabe (que eu dou palpite), menos a Dilma e eu. Se ela pedir opinião para mim, eu darei. Não quero ficar dizendo o que ela tem que fazer. É direito dela fazer as coisas como ela tem que fazer - declarou o presidente, que foi enfático:
- Não quero tirar o Levy nem quero colocá-lo.
Ajuste fiscal
Lula também defendeu a presidente Dilma Rousseff e a necessidade de fazer ajuste fiscal.
- Ela sabe o prejuízo que ela teve politicamente com isso (o ajuste fiscal), mas ela teve coragem de manter - afirmou o ex-presidente.
Lula admitiu que sua sucessora cometeu erros, exemplificando a política de subsídios. O ex-presidente atribui a atual crise do Brasil ao "agravamento da crise internacional" e a "erros nossos".
Filho
Sobre seu filho caçula, Luís Cláudio Lula da Silva, que é alvo de investigação da Polícia Federal, Lula disse que "ele tem que provar que ele fez a coisa certa".
- É chato? É, mas é bom - afirmou Lula sobre o processo judicial.