Quatro dias após o vazamento, a mancha escura na água chegou no ponto de captação da Tubarão Saneamento, concessionária responsável pelo tratamento de água que abastece uma população de 125 mil pessoas em Tubarão e Capivari de Baixo. A coordenadora da estação de tratamento, engenheira química Vanessa Vilela de Souza, explica que a contaminação já é histórica na região e por isso o tratamento de água chega a ser 15% mais caro que o convencional.
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– O que analisamos na época foi que a água escura tinha índices acima do normal de ferro, alumínio e manganês. No entanto, esses metais pesados já são encontrados no rio por causa da atividade mineradora nas regiões próximas das nascente do rio Tubarão. Por isso, antes de começar o tratamento da água, temos que aplicar uma fase de adição de Cloro. Isso não ocorre em outras estações de tratamento - detalha Vanessa.
O dinheiro de um acordo entre Ministério Público Federal (MPF) e a empresa será revertido para ações de recuperação ambiental na região carbonífera, que serão aprovadas pela procuradoria e também pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tubarão de Complexo Lagunar. O vice-presidente da entidade, Francisco de Assis Beltrame, critica o descaso com o sistema hídrico na região:
_ Vários acordos entre empresas e órgãos públicos já foram feitos em décadas, mas o rio Tubarão continua em situação precária. Na região carbonífera, por exemplo, há anos não é possível encontrar peixes. Isso porque os resíduos deixam a água com baixo pH, muito ácida, prejudicando a vida marinha. Além disso, a suinocultura e a falta de saneamento básico nos municípios reforçam a poluição nos mananciais.
Dados do Portal da Transparência do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) mostram ainda que os constantes casos de degradação no setor já resultaram em 26 inquéritos civis públicos abertos pelo MPF sobre mineração em Santa Catarina até outubro deste ano, sendo o segundo Estado em número de investigações no país, atrás apenas do Rio Grande do Sul (34). A maior parte dos inquéritos está relacionado à atividade carbonífera no Sul catarinense.
"Esse rio está morto", afirma morador
O rio Rocinha passa nos fundos da casa de Eliomar de Souza, em Lauro Muller. O que poderia ser uma vantagem para as pequenas atividades agrícolas do morador, vira um entrave, principalmente se a intenção é obter água limpa.
– Esse rio está morto. Não podemos utilizar a água para nada. Se colocar na planta ela morre, e também não dá para beber. Temos que captar água de outras nascentes aqui de perto para usar em casa - conta o morador.
Há três anos, Feliciano Barbosa Dias faz duas medições diárias no rio Tubarão, em Orleans, para a Epagri e a Agência Nacional de Águas (ANA). Morando às margens do rio, vizinho da ponte da Coloninha, o medidor conta o que viu ao acordar no dia 26 de novembro.
– Nunca tinha visto o rio daquela cor, todo mundo ficou assustado - diz Feliciano.