Com a intensificação dos bombardeios ao Estado Islâmico, o drama humanitário tende a ser multiplicado. O número de refugiados irá crescer, assegura Monique Sochaczewski, professora do programa de pós-graduação em Ciência Militar da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e especialista nos temas da Turquia.
Com a intensificação dos bombardeios nas regiões controladas pelo EI no Iraque e na Síria, quais serão os impactos para a população e regiões vizinhas?
Turquia, Líbano e Jordânia já estão recebendo impacto desde 2011, quando começou a guerra civil na Síria. O Líbano tem cerca de 1 milhão de refugiados e a Jordânia, 600 mil. A Turquia, que é um país maior, está com 2,2 milhões de refugiados sírios e 300 mil iraquianos. O fluxo certamente vai aumentar. E o drama também vai ser maior, civis serão afetados pelos bombardeios. Os refugiados estão fugindo dos ataques de Bashar al-Assad (presidente sírio). Eles preferem se arriscar pelo Mediterrâneo, em rotas complicadas, a pé ou de barco, para chegar em algum lugar da Europa. Preferem isso do que ficar no califado, que seria a terra dos muçulmanos sunitas. É importante frisar isso, mostra que a ideologia do califado não é atraente para eles.
Essas concentração de refugiados na Turquia, no Líbano e na Jordânia traz quais consequências?
Na Turquia, existe uma questão muito séria de emprego. Os sírios pegam qualquer coisa, não são bem pagos. Isso também gera ressentimento com os turcos. Muitos refugiados estão sem acesso a serviços de saúde e educação. Em alguns lugares, está gerando situação de marginalização e confronto. Já temos turcos e refugiados sírios se estranhando dentro da Turquia. Esse passaporte sírio encontrado ao lado de um suicida (que participou dos ataques a Paris) não é à toa. O Estado Islâmico procura fazer com que os refugiados não sejam bem-vindos na Europa. Isso porque o refugiado comprovaria, na linguagem deles, a opção dos sírios de ir para a "Europa infiél" em vez de ficar no califado.
Quais outras tensões podem surgir a partir do crescimento do conflito?
Certamente a questão curda vai ganhar força. Os curdos estão sendo uma força decisiva para conter o EI. Isso gera um temor interno na Turquia pela força dos curdos, que tem presença muito forte no sudeste do país. Em que medida isso pode gerar uma demanda? A força dos curdos pode impactar internamente na Turquia, e isso é um temor desde o nascimento da república. (Curdo é uma etnia vinculada ao Curdistão, região que perpassa áreas de Turquia, Irã, Iraque e Síria, mas não existe como Estado. Na Turquia, os curdos, organizados no partido PKK, já travaram luta armada com o governo em busca de território próprio).