Uma fábrica de leite e uma distribuidora de laticínios do Vale do Taquari sofreram busca e apreensão nesta quarta-feira pelo Ministério Público Estadual (MP), na 10ª edição da Operação Leite Compen$ado. As empresas são suspeitas de adulterar o produto vendido ao consumidor.
Ao todo, 15 laudos técnicos da Secretaria Estadual de Agricultura apontam adição de água ao leite em proporções muito acima do tolerado por lei. Segundo o promotor Mauro Rockenbach, que coordena a Operação Leite Compen$ado 10, amostras tinham 32% de água acima do permitido.
- Isso é fraude na água, não no leite - ironiza o Rockenbach.
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A fábrica interditada nesta quarta-feira é a H2B, de Venâncio Aires, produtora do leite Lactibom. Essa indústria já tinha sido interditada em 2008, quando ainda se chamava Lactibom, pelo mesmo motivo: adulteração do leite com água. O nome da empresa teria sido trocado em decorrência de dívidas contraídas pelo antigo proprietário, que repassou o controle da H2B para Luciano Petry.
Ele já foi investigado em 2015 pela Operação Leite Compen$ado. Petry, inclusive, está 14 vezes denunciado por adulteração no leite, em outras fábricas.
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Fotos: Fernando Gomes, Agência RBS
Petry apareceu na empresa em meio à operação do MP e prometeu colaborar com as autoridades, mas não quis falar com a imprensa.
A distribuidora interditada é a Drw Comércio de Laticínios, também de Venâncio Aires.
- Eles transformam qualquer "carga ruim" (com leite azedo) em produto a ser vendido. Colocam água e estabilizantes, para alterar o sabor e tentar passar por algo palatável. Quando o produto é muito ruim, revendem para uma queijaria de Lajeado - descreve o promotor Rockenbach, com base em nove laudos de 2014 e seis de 2015, todos atestando adição de água em excesso no leite Lactibom.
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Outra irregularidade constatada é que a empresa colocava a data e numeração dos lotes em caixas de papelão que acondicionam 24 litros - e não em cada litro, como determina a lei. Isso, acreditam os promotores de Justiça, era feito para driblar os prazos de validade do produto vendido.
O promotor Rockenbach diz que a Drw venceu dois pregões para entrega de leite no sistema penitenciário gaúcho. Um para distribuir 6,9 mil litros e outro 25 mil litros mensais na região do Vale do Taquari. Como há suspeita de adulteração desse leite, o produto terá a distribuição suspensa.
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A Drw também acaba de ganhar licitação para distribuir leite nos presídios de Canoas, Porto Alegre e Charqueadas, abrangendo as maiores penitenciárias gaúchas. O Ministério Público pede anulação desses contratos. Zero Hora não conseguiu localizar os proprietários da Drw.
O MP solicitou também a prisão de 13 pessoas nessa operação. A Justiça negou, mas concedeu nove mandados de busca e apreensão, que estão sendo cumpridos. A busca também atingiu queijarias em Lajeado e Carlos Barbosa, que compravam leite adulterado.
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De forma paralela, a Promotoria do Consumidor ajuizou ação civil pública contra a fábrica, a distribuidora e três empresários transportadores de leite adulterado. O processo inclui interdição das empresas, apreensão de todos os produtos lá estocados - independentemente do lote - e recolhimento do leite já distribuído em pontos do comércio. Será também distribuído um aviso à população, com os dizeres: "Não consumam leite Lactibom".
A primeira operação Leite Compen$ado aconteceu em 2013. Desde então, 15 envolvidos foram condenados, a penas que variam de cinco anos de prisão a 16 anos de reclusão.
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Produto será apreendido em 350 locais
A Operação Leite Compen$ado determinou nesta quarta-feira a apreensão de leite da marca Lactibom em 350 estabelecimentos localizados em todo o Estado. São locais de venda, não comprometidos com a fraude, ressalta o procurador Fabiano Dallazen, sub-chefe do MP, que acompanha a operação.
- Vamos pedir que deixem de comercializar leite dessa marca, até que se saiba a qualidade do produto, mediante testes - detalha Dallazen.
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O MP e a Secretaria Estadual da Fazenda dizem que, oficialmente, a fábrica H2B-Lactibom tem lucro mensal de R$ 500 mil mensais, com venda média de 1 milhão de litros. Também será investigada possível sonegação, pois há indício de problemas com notas fiscais.
Uma funcionária que trabalha no controle de qualidade da H2B, Jéssica Ohlweiller, confirmou à imprensa e aos promotores que os funcionários sabiam da adulteração do leite.
Outro problema atinge as queijarias de Lajeado e Carlos Barbosa investigadas. Elas trabalhavam com leite oriundo de outras cidades e que sofria apenas fiscalização municipal - ou seja, não poderiam ser transportados ou vendidos em outras regiões do Estado. Alguns laudos apontam coliformes fecais presentes em mostras do queijo e também produto estocado sem rótulo e embalagens sem menção ao prazo de validade.
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