Era um domingo, 21 de maio de 2000, quando Sandra Adriana Abreu da Silva, 25 anos, saiu de casa, em Alvorada, para ir a um baile. Nunca mais voltou. Ela tinha envolvimento com drogas, mas segundo a mãe, Dozolina Abreu, nunca passava a noite fora e, muito menos, deixava as filhas, Pâmela e Paloma, de cinco e quatro anos, sozinhas.
Naquela noite ela foi vista pela última vez conversando com um rapaz, que nunca foi sequer identificado. Na manhã seguinte, começou a peregrinação de Dozolina, hoje com 63 anos, em busca da filha. E lá se vão 15 anos sem respostas.
- Quando vejo um caso de alguém que apareceu depois de muito tempo, me pergunto se um dia vai acontecer comigo. Eu não quero morrer sem saber notícias da minha filha - desabafa a mãe.
Foto: Tadeu Vilani / Agência RBS
Um drama que, apesar de ser solitário para a família, está longe de ser isolado. Segundo a Secretaria Estadual da Segurança Pública, foram registrados
2.063 casos de desaparecimento de adultos entre janeiro e julho deste ano no Estado.
As ocorrências de localização, que incluem casos registrados como desaparecidos antes deste ano, foram 3.417. Isso sem falar nos menores desaparecidos: 2.312 só nos primeiros sete meses de 2015.
No caso de Dozolina, que teve a filha desaparecida fora da Capital, a probabilidade de não ver um final feliz para essa longa história só aumenta. A falta de uma estrutura adequada para solucionar o desaparecimento segue intransponível.
Na época, a mãe procurou uma delegacia em Alvorada. Depois, foi encaminhada para a antiga Delegacia de Desaparecidos, que funcionava no Palácio da Polícia, em Porto Alegre. Na sequência, os departamentos foram novamente reorganizados e o caso teria voltado para a polícia na cidade, mas não há certeza.
Família é fundamental
Independentemente da estrutura do Estado para investigar desaparecimentos, há unanimidade de que a participação da família é fundamental para garantir um rumo positivo às buscas. E esse esforço nunca faltou à Dozolina.
Segundo a delegada Jeiselaure Souza, responsável pela 5ª DHPP de Porto Alegre, que concentra os casos de adultos desaparecidos na Capital, o papel da família é ainda mais importante em casos mais antigos.
- Quando todas as possibilidades de investigação se esgotam e o desaparecido não é encontrado, a investigação fica aberta, mas a polícia tem que aguardar novos elementos, que podem vir das famílias - explica.
Luz no fim do túnel
A Polícia Civil começou a traçar um plano que pode, ao menos, acelerar respostas. Um software do DML para identificação de corpos pode ser adaptado à polícia. A intenção é que a cada registro, cada delegacia possa lançar no sistema as características da pessoa e cruzar os dados.
Mas, por enquanto, o que deveria ter representado um alento a pessoas como Dozolina não passou do papel. Em janeiro entrou em vigor uma lei para tratar dos desaparecidos.
Entre as principais medidas previstas no projeto sancionado estão a criação de uma estrutura policial específica para as investigações de desaparecimentos e a estruturação de um cadastro único de desaparecidos.
*Diário Gaúcho