Um empréstimo feito pela prefeitura a um vereador está dando o que falar em São Martinho da Serra e tem causado indignação entre os moradores do pequeno município de quase 3,5 mil habitantes. Após o temporal da última quinta-feira, que atingiu boa parte dos municípios da Região Central, o Executivo cedeu um dos seus três geradores ao vereador Arani Silva da Trindade, do PP, mesmo partido do prefeito Ivan Schieffelbein.
O gerador, que é um bem público, foi parar dentro de um mercado, que pertence ao vereador e à mulher dele. Segundo a presidente da Câmara de Vereadores, Leila Difante Marafiga (PSDB), será aberta uma sindicância para apurar a conduta do colega.
Da última quinta-feira até o final da tarde de domingo, os moradores das zonas urbana e rural do município ficaram sem luz e também sem água. Frente a este cenário, o vereador Trindade pediu o gerador para o secretário municipal de Saúde e ex-prefeito, Gilson Almeida (PP), que comandou o município de 2005 a 2012.
- Estava sobrando. Ninguém fazia uso e não roubei nada. Aí, pensei: vou pedir e, assim, ainda ajudo as pessoas. Não fiz politicagem. Ajudei a salvar vidas - assevera o vereador.
Quando questionado o porquê de não ter levado o aparelho para um local de uso comum como, por exemplo, uma igreja ou um centro comunitário, o vereador se limitou a dizer que "foi a decisão mais acertada". Ele admite que utilizou o gerador para manter parte da mercadoria no mercado, como carne e derivados, mas afirma que também ajudou outras pessoas, que carregaram celulares, luminárias e conservaram seus produtos.
O secretário de saúde Gilson Almeida afirma que apenas atendeu a um pedido de um cidadão:
- Faria o mesmo se outra pessoa tivesse me pedido. Não houve benefício algum e ajudamos o maior número de pessoas que pudemos. Agi de boa fé. Acredito que há outras coisas mais importantes para eles (vereadores) se preocuparem.
Intriga da oposição
Almeida ainda comenta que há "um alvoroço desnecessário" em torno do tema. Para ele, a oposição está se valendo desta situação visando a eleição de 2016. Por meio de sua assessoria, o prefeito Schieffelbein disse que o assunto deve ser tratado com o secretário de Saúde.
Um dos efeitos da falta de luz foi sentido na Escola de Ensino Fundamental Boqueirão, com 55 alunos de 1º ao 5º ano, que suspendeu as aulas na semana passada e trabalhou às escuras na segunda-feira. Parte da merenda escolar, como pratos congelados e salsichas, teve de ir para o lixo, conforme a diretora Maria Eni da Rosa. A situação só foi normalizada com a chegada do gerador que estava no mercado da família do vereador, na manhã de terça-feira.
A prefeitura tem três geradores: um na unidade de saúde do município, o outro, que serviu ao mercado do vereador e que, agora, está na escola, e um terceiro, que estragou. Moradores relatam que, durante os dias sem luz, vacinas e insulinas do posto de saúde vieram para Santa Maria - o que a direção do posto confirmou. Mas a situação teria sido normalizada.