A mulher caminhava com dificuldade, enfrentando a água na altura da cintura. Nos braços, tentava salvar poucos pertences, depositados em uma sacola plástica. Essa é uma cena que se tornou comum desde sábado em Eldorado do Sul, cidade em que mais da metade da população foi afetada pela cheia.
Há três dias, os moradores do município veem as ruas virarem córregos. Tiveram de fazer de embarcações seu principal meio de transporte. Dos 34,3 mil habitantes, 18 mil foram afetados pela enchente. Desse total, 2 mil estão desalojados, acolhidos em casas de parentes ou amigos, e 250 desabrigados, enviados para o ginásio do Loteamento Popular. Além disso, há dezenas de moradores ilhados em suas residências, com medo de saques e sem energia elétrica.
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Conforme o prefeito Sérgio Munhoz, esta é a pior enchente da história da cidade. No alagamento mais recente, em julho passado, 3,5 mil pessoas foram prejudicadas. Por isso, o Executivo decretou situação de emergência no domingo.
- Esta é a terceira enchente do ano, e o segundo decreto de emergência - lamenta o prefeito.
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Mas o que provocou este fenômeno sem precedentes? O município é historicamente atingido pelas cheias do Rio Jacuí, e tem um plano de contingência para lidar com esse tipo de situação desde 2013. No entanto, desta vez foi a combinação da força de dois mananciais de água que provocou o alagamento. No sábado, o vento Sul represou as águas do Guaíba, que rapidamente também atingiram a cidade. A soma das cheias intensificou o volume de água que chegou ao município.
O atendimento médico e a entrega de medicamentos foram prejudicados, já que o posto de saúde e a farmácia popular tiveram o acesso tomado pela água. São feitos apenas atendimentos emergenciais na Unidade Básica de Saúde do Loteamento Popular, um espaço menor e com estrutura reduzida. Ao menos duas escolas, que somam mais de mil alunos, devem permanecer fechadas até amanhã.
Como a água invadiu os prédios, há risco de que móveis, materiais e equipamentos possam ser danificados. Segundo o coordenador da Defesa Civil do município, Marco Aurélio de Araújo Pereira, a água começou a invadir a cidade na madrugada de sábado, e os primeiros desabrigados foram encaminhados ao ginásio no domingo. Os bairros mais atingidos foram Cidade Verde, Chácara e Itaí.
Moradora do Cidade Verde, Letícia da Silva Mello, 21 anos, deixou a casa onde mora com o marido e os quatro filhos, que têm entre cinco e um ano, quando a água atingiu a altura de seu joelho.
- Deu tempo de pegar só algumas roupas para os meninos e os nossos documentos. Perdemos todo o resto - lamenta a desempregada, que sofreu com três alagamentos nos últimos dois anos.
Para evitar as enchentes, o governo federal liberou R$ 5 milhões para um estudo de estrutura de contenção em Eldorado do Sul, Alvorada, Esteio e Porto Alegre, conforme Munhoz. O trabalho deve ser concluído em dezembro, e a expectativa do prefeito de Eldorado é de que o estudo inclua um projeto de construção de um dique em forma de anel ao redor da cidade.
Segundo a Defesa Civil, apenas essa obra poderia amenizar os efeitos das cheias. A melhora no sistema de esgoto não suportaria a força do represamento das águas do Guaíba.
O município precisa de doações de colchões, cobertores, alimentos e fraldas, que podem ser entregues na sede do Comando de Bombeiros Voluntários ou na Secretaria de Assistência Social. Quando a água deixar as residências - o que ainda não tem previsão -, a prefeitura planeja entregar também kits com produtos de limpeza aos moradores.
A confluência da enchente
-Historicamente atingido pelas cheias do Delta do Jacuí, o município tem plano de contingência desde 2013.
-O documento é um plano de ação para atender a moradores em áreas de risco, o que ameniza danos.
-No entanto, desta vez, a origem do alagamento não foi apenas a cheia do Rio Jacuí, como em 80% das vezes.
-No sábado, o vento no sentido Sul represou as águas do Guaíba, que rapidamente atingiram a cidade.
-A confluência das cheias intensificou o volume de água que invadiu o municípi