O Morro dos Cavalos, em Palhoça, e outros casos polêmicos envolvendo terras indígenas, serão investigados por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada na Câmara dos Deputados na quarta-feira. A CPI, oficializada um dia após a aprovação em Comissão Especial da PEC 215, que propõe mudanças nessas áreas, vai apurar possíveis fraudes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) nas demarcações dos territórios.
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Proposta pelo deputado Alceu Moreira (PMDB/RS), membro da Frente Parlamentar da Agropecuária, a CPI deve iniciar os trabalhos na próxima semana, com a indicação dos membros por parte dos partidos. O objetivo é detalhar os critérios usados pelos dois órgãos em uma série de episódios emblemáticos de fraudes em processos demarcatórios de áreas indígenas e quilombolas.
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Entre as situações previamente denunciadas na justificativa da CPI está a do Morro dos Cavalos. A localidade foi tema de reportagem especial do Diário Catarinense em 2014, que expôs como organizações que atuaram na região agiam para obter benefícios particulares em torno das comunidades indígenas. A publicação denunciou casos de migração manipulada de índios que viviam em terras tradicionais e já regularizadas para áreas de conflito. Também são citados como casos a serem apurados pela CPI as demarcações indígenas e quilombolas Mato Preto, Sananduva e Morro Alto, no Rio Grande do Sul.
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Manifestações contra a PEC
Quinta-feira, Funai e governo federal divulgaram notas contra da PEC 215. A Secretaria de Governo da Presidência da República e o Ministério da Justiça afirmam entender que a aprovação do texto "ofende o princípio da separação dos poderes e não se alinha com o direito originário consagrado na constituição acerca das terras tradicionalmente ocupadas pelos povos indígenas, na conformidade do já reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF)".
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A Funai disse que a proposta representa uma grave ameaça aos diretos indígenas e à sociedade em geral, uma vez que ela seria inconstitucional. "A PEC propõe a transferência de responsabilidades sobre a demarcação de terras indígenas do Poder Executivo para o Legislativo (...). Na prática, essa transferência significa que a definição sobre as terras onde os indígenas poderão exercer seu direito à permanência física e cultural está sujeita às maiorias políticas de ocasião. Sabemos que hoje esta maioria representa interesses pessoais e financeiros e atua para que não seja demarcada nenhuma terra indígena", diz a nota, que também repudia a forma "autoritária, ofensiva e desrespeitosa" como foi conduzido o processo de votação da PEC 215 pela Comissão Especial da Câmara.
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