O sonho de uma jovem de 18 anos de ter um iPhone, que ela havia realizado em abril, desmoronou com um susto na manhã de ontem. Policiais a surpreenderam em casa, na Capital, para levá-la até o Deic, onde deveria prestar esclarecimentos justamente sobre a compra do aparelho modelo 5S.
Ela prontamente apresentou o boleto com as oito prestações que completariam um pagamento de R$ 2,2 mil pelo telefone que é avaliado em mais de R$ 3 mil. Um preço pouco abaixo do mercado não chegou a surpreender a jovem quando adquiriu o aparelho.
Julgava que o iPhone havia sido trazido do Paraguai por um amigo da família que trabalha no Camelódromo. Na delegacia, descobriu que a origem daquele iPhone era outra. Foi parar no Camelódromo depois de ser um dos produtos roubados da transportadora TNT Mercúrio, de Novo Hamburgo, no dia 23 de março.
Receptação
Localizar os compradores, que poderiam se configurar em receptadores, dos aparelhos do mesmo tipo que permaneciam nas ruas era um dos objetivos da Operação TNT Mercúrio, desencadeada pela Delegacia de Roubos de Cargas, do Deic, em nove cidades gaúchas - Porto Alegre, Canoas, Viamão, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Campo Bom, Taquara, Caxias do Sul e Santa Maria - e Criciúma (SC).
- Quem faz a receptação desses produtos acaba alimentando toda uma rede criminosa. A ação policial precisa ser exemplar para frear isso - acredita o delegado Juliano Ferreira.
Casos como o da jovem de 18 anos, segundo ele, podem ser considerados de boa-fé. Mas não se aplicam a todos os 17 aparelhos recuperados durante a ação. Um advogado de 37 anos, por exemplo, confirmou ter comprado o iPhone por R$ 1 mil (um terço do valor de mercado), mas não revelou de quem adquiriu o aparelho.
Aparelhos foram recuperados
Foto: Ronaldo Bernardi
Outra mulher disse ter comprado dois iPhones por R$ 1,1 mil de um ambulante de Campo Bom.
- O valor pago pelo produto é fundamental para determinar o nível de conhecimento que essa compradora tinha da origem criminosa do aparelho. Vamos analisar caso a caso e algumas dessas pessoas poderão ser indiciadas por receptação - afirma o delegado.
Foram cumpridos seis mandados de prisão, 20 de condução para depoimento e 28 de busca e apreensão. Cinco pessoas foram presas. Ao todo, 17 pessoas foram conduzidas para depor e os celulares apreendidos.
Suspeitos do roubo estão na cadeia
Pelo menos 90% da carga avaliada em R$ 1,3 milhão, levada da transportadora no dia 23 de março, foram recuperados no dia seguinte, em um armazém no Bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo. Naquela ocasião, dois integrantes do bando foram presos.
Como restavam ser recuperados justamente os celulares, a polícia se valeu da tecnologia.
- Rastreamos pelo próprio sistema dos iPhones e passamos a monitorar os possíveis compradores em redes sociais e outros meios - comenta o delegado Juliano Ferreira.
Ontem, outros quatro integrantes da quadrilha foram presos temporariamente. Um deles foi capturado na empresa onde trabalha, em Campo Bom. Ele é ex-funcionário da transportadora.
Outros ataques em investigação
Além do ataque de março, a mesma quadrilha é investigada por outros quatro crimes contra transportadoras. Em 25 de maio, contra a Panex, e em três oportunidades, entre maio e junho, contra a ViaLog. Só entre esses outros crimes, foram levados pelo menos R$ 2 milhões em cargas.
- Eles agem sempre de maneira bastante violenta e contra as empresas, não os caminhões. Sempre entre quatro e cinco criminosos fortemente armados - conta o delegado.
Na fuga, costumam levar um dos caminhões da empresa, que depois são abandonados. A estimativa da polícia é de que os criminosos especializados em roubos de cargas mantenham uma média de dois roubos por mês na Região Metropolitana.
Operação foi realizada na manhã de quarta
Foto: Ronaldo Bernardi