Anunciado pela presidente Dilma Rousseff como novo ministro da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera (PMDB-RJ) toma posse nesta segunda-feira, dia 5 de setembro. Gaúcho de São Valentim, fez a carreira no Rio de Janeiro, por onde se elegeu deputado federal em 2014. Indicado para a pasta pela bancada da Câmara do PMDB, Pansera ganhou notoriedade quando foi chamado pelo doleiro Alberto Youssef de "pau mandado" do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O novo ministro discorda do rótulo. E garante estar apto para assumir seu posto na Esplanada. Pansera recebeu Zero Hora em seu gabinete. Confira os principais trechos.
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Quais as suas prioridades no Ministério da Ciência e Tecnologia?
Dar continuidade ao que era feito pelo ministro Aldo Rebelo (PC do B), ouvir a comunidade acadêmica e a presidente Dilma. Tem de desenvolver pesquisa. No Rio, trabalhei bastante com pesquisa aplicada à eficiência no trabalho, é preciso ter escolas técnicas e universidades com bons laboratórios e aplicar isso em métodos de trabalho. É um campo para trabalhar. Outro campo são as startups, que o governo deve incentivar.
Há orçamento suficiente?
Isso a gente busca. Com boas ideias e boas políticas o orçamento a gente busca. Já conversei com o Aldo (ex-ministro da Ciência e Tecnologia), que mostrou uma série de iniciativas, inclusive com empréstimos internacionais.
Qual a sua qualificação para o cargo de ministro?
Tenho trabalhado na educação, não sou pesquisador, mas milito nessa área. Presidi, de 2007 a 2014, a Faetec, uma fundação que trabalha com ensino técnico no Rio, tenho atuação em projetos de acesso à internet em comunidades. Vamos trabalhar com empenho.
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Alberto Youssef disse que o senhor era "pau mandado" de Eduardo Cunha. Afinal, o senhor é pau mandado?
Fiz uma ação muito contundente na CPI da Petrobras, pedi a quebra do sigilo da família dele (Youssef) e ele tomou isso como um ataque. Ninguém manda ser bandido, a culpa não é minha se ele está preso. Não posso me medir pela frase dele. Tenho um trabalho consistente na área de educação.
Por que pediu quebra do sigilo da família?
Muitos dos implicados na Lava-Jato envolveram familiares, Paulo Roberto Costa é um, por exemplo. Um dos focos da CPI da Petrobras era achar o furo de um mercado paralelo de dólar que é tão forte no Brasil. Também buscamos os laços dos delatores com familiares em uma linha de investigação. Essa tarefa ficou comigo.
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E qual a sua relação com Eduardo Cunha?
Me elegi sozinho, com um grupo de pessoas na Baixada Fluminense, tive muito voto do pessoal do samba. A relação com Eduardo Cunha se deu a partir do mandato, é recente. Ele é um político muito conhecido, só eu que não era do PMDB antes.
Com a revelação das contas no Exterior, Cunha deve se afastar da presidência da Câmara?
É preciso esperar, a justiça vai ser feita. Cunha é sagaz e muito inteligente. Ele tem dimensão de como toca a vida dele, a gente acredita no que ele fala, ele tem legitimidade para ser presidente da Câmara, foi eleito em primeiro turno. Ele com certeza deve ter explicações sólidas e vamos aguardar.
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O senhor foi indicado pela bancada, que ganhou dois ministérios no governo. O PMDB da Câmara será fiel ou Dilma corre o risco de impeachment?
Tenho feito um trabalho de defesa do governo na bancada desde o início do ano. O Brasil precisa de estabilidade. Nas medidas mais duras do ajuste fiscal tínhamos 50 a 55 votos a favor do governo (a bancada tem 66 deputados). Essa é a nossa medida da bancada, que vai ter uma maior estabilidade.
O PMDB defende redução de ministérios e saiu da reforma com uma pasta a mais (seis para sete). Isso é contraditório?
Há uma coalizão que governa o país, que estava desproporcional em relação ao tamanho dos partidos. O PMDB é o maior partido do Brasil, e não é só porque tem mais deputados. Ele tem mais prefeitos, vereadores, diversos governadores, a base social que forma um colchão para sustentar qualquer governo. Ter sete ministérios dentro de 31 é adequado ao tamanho do PMDB.
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Essa nova composição vai segurar a abertura de um processo de impeachment?
O impeachment não passa, não iria passar e não vai passar mesmo. Com Saúde, Portos, Aviação, Ciência e Tecnologia o PMDB passa a tomar decisões estratégicas no governo. Quando o ministro despacha com a presidente ele toma decisões, tem a relevância merecida.
Os cargos distribuídos nos escalões inferiores dos ministérios para deputados vão fidelizar a bancada?
Tudo é composição política, é coalizão. Se governa assim em muitos países.
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O senhor foi do PT, militou no PSTU, passou pelo PSB e está no PMDB. O senhor mudou ideologicamente?
Deixei de fazer a militância marxista no final dos anos 1990. O processo da queda do Muro de Berlim teve impactos sobre a militância da esquerda marxista. Os partidos racham muito, o PSTU sofria rachas. Foi um descolamento muito grande da realidade em 2002 não apoiar o Lula. O tempo passou e só fui candidato em 2014, muitos anos depois do meu afastamento. Sou um nacionalista de centro.
Como o senhor entrou no PMDB?
O PSB estava na base de Dilma e de Sergio Cabral. Em 2013, quando o PSB lançou Eduardo Campos pré-candidato para a Presidência, o partido se descolou dessa base, deu espaço para o Romário concorrer ao Senado e ficamos isolados. Nosso grupo saiu, o processo político local do Rio não me permitiu ficar em outro partido que não fosse o PMDB, busquei base de Dilma e da reeleição de Pezão. O PMDB foi o porto mais seguro que eu julguei.
O PMDB tem núcleo bem conservador, a favor da maioridade penal, por exemplo. Qual a sua posição?
Sou contra reduzir maioridade penal. As coisas estão muito fluídas, há deputados conservadores que são contra a redução, como o Darcísio Perondi (PMDB-RS). Esse arranjo ideológico está meio bagunçado, não é mais como era nos anos 1980.
Sobre financiamento de campanha, qual sua opinião?
Sou a favor do financiamento empresarial. Do contrário, vai fortalecer o caixa 2, não existe financiamento físico, as pessoas não dão dinheiro para campanha. Vai pegar dinheiro público e usar o fundo partidário? Você tem democracia, tem de fazer campanha, disputar voto, disputar ideia. Como faz isso? Tem é que ter limite para gastos, como aprovamos na Câmara.
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O senhor nasceu em São Valentim, viveu em Porto Alegre. Mantém os laços com o Estado?
Tenho amigos em Porto Alegre, gosto muito da cidade, adoro ir no Bar do Beto. Sou gremista, meu filho de quatro anos também é. Fui em dezembro para São Valentim, onde tenho familiares. Visito o pessoal, jogamos truco, comemos churrasco e pescamos lambari. É muito bom.
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