- Há mais de um ano, eu levo o café na cama para ele porque o casamento é assim. Tem que ter o coração cheio de amor e de responsabilidade. Uma família se constrói com dedicação, firmeza e com a doação de um para o outro. Sempre ajudei as outras pessoas, como eu não vou cuidar do meu companheiro? Enquanto eu tiver forças, se Deus me der a graça de cuidar dele, eu vou cuidar. Eu não me arrependo de casar com ele, e ele, eu também acho que não, porque nos amamos espontaneamente - fala dona Elys.
A médica nefrologista Francine Lipnharski, que trata de Juracy, é testemunha da dedicação de Elys. Segundo Francine, a idosa era presença constante no hospital, além de acompanhar o marido nas consultas:
- Ela é ótima. Super dedicada, está sempre junto com ele. Ele estava deprimido, e ela sempre dando apoio. Eventualmente, ela saía do hospital para fazer alguma coisa, mas está praticamente o tempo inteiro junto com ele.
Passar 58 anos de uma vida dividindo a casa, a cama e o coração com uma mesma pessoa. Talvez não exista uma receita para enfrentar os dias. Mas, para a dona Elys Lourdes Gomes de Mello, 83 anos, é preciso amor, bondade e, acima de tudo, compromisso. E é isso tudo que ela dedica ao marido, Juracy Teixeira de Mello, que há mais de 30 anos enfrenta problemas de saúde e conta com a dedicação da incansável companheira.
Casados desde 12 de março de 1957, os dois dividiram festas, viagens e comemorações. Mas também enfrentaram dificuldades, momentos em que o companheirismo e o afeto precisaram falar mais alto.
Pesquisadores levantam hipótese de transmissão de Alzheimer
Desde 1982, seu Juracy sofre com problemas de saúde no coração, nos rins e em outros órgãos. Essas dificuldades fazem com que o idoso precise, constantemente, ser internado. Hoje, ele se recupera em casa de um procedimento cirúrgico. Mas, em 5 de outubro, deve retornar ao hospital. Durante o último período de 22 dias em que o idoso esteve internado, Elys não saiu do lado dele. E também ficou por perto em todas as outras internações e em casa.
Da amizade nasceu o amor
O casamento foi uma consequência da relação de amizade que já existia entre os dois. Vizinhos em Júlio de Castilhos, onde moraram até 1998, Juracy frequentava a casa da família de Elys, e a aproximação entre os dois foi natural. Hoje, ela cuida do bem-estar dele, mas foi também em um momento de saúde que a paixão falou mais alto.
- Eu estava no hospital, operada da apendicite quando ele foi me visitar, mas como amigo. Mas quando ele abriu a porta, ele estava diferente, e eu senti uma sensação estranha, deu uma coisa no coração e pensei que estava ficando louca. Um tempo depois disso, ele disse que gostava de mim e que, se eu não casasse com ele, ele iria embora - conta, sorridente, dona Elys.
Ainda bem debilitado, o idoso permanece de cama a maior parte do dia. Pichico, como a esposa o chama, emociona-se ao falar do matrimônio. Por ainda estar fraco, ele preferiu não gravar entrevista. Mas, das pouca palavras proferidas, a certeza de que o casamento (e Elys) são os bens mais preciosos da sua vida.
Na tarde da última quarta-feira, a mulher, como uma adolescente que testa o amor do namorado, brincou com o marido dizendo que ela e a equipe de reportagem só gostariam de saber se ele queria se divorciar dela. A resposta contrariada veio com lágrimas nos olhos:
- Isso é besteira, isso não está no meu calendário.