Figura controvertida da Polícia Civil nos anos 1980 por revelar casos de torturas, se envolver em crimes, ser preso e demitido, o ex-inspetor Arquimedes Luchtemberg Ribeiro, 58 anos, volta a chamar atenção da corporação. Ele está desaparecido há seis meses, com suspeitas de que foi tirado à força de casa, no bairro Glória, em Porto Alegre, supostamente por algum desafeto.
O ex-policial passou 12 anos na cadeia e, desde 2000, estava em liberdade. Com saúde debilitada, Arquimedes não trabalhava e vivia da ajuda de parentes. Entre 2007 e 2008, foi preso duas vezes temporariamente - supostamente por conexões com assaltantes.
O sumiço ocorreu em 12 de março, dias depois de alugar uma moradia que dividia com um criminoso, que teria sido expulso pelo ex-policial por ser usuário de crack. O homem voltou a ser preso por roubo após o desaparecimento de Arquimedes, mas a versão dele é mantida em sigilo pela polícia.
O ex-agente estava em casa naquela madrugada de quinta-feira, quando dois homens teriam invadido o lugar. A dupla teria imobilizado Arquimedes e pego as chaves do Gol cinza dele, ano 2005, um colchão, uma mala grande e o arrastado para o carro. Em seguida, empurraram o veículo por alguns metros com os faróis e motor desligados, acionando a chave ao chegar em uma lomba.
A ausência foi percebida por familiares no dia seguinte. Ele não atendia aos dois celulares, e o Gol não estava na garagem. Ao arrombar a porta da casa, um parente deparou com um ventilador ligado. Em uma prateleira, remédios que o ex-policial carregava para combater a pressão alta e a diabetes. Um lençol tinha mancha de sangue e o gato de estimação miava esfomeado, indicando que o dono saiu de casa às pressas.
Cerca de 10 pessoas já foram ouvidas pela 5ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, mas até agora não surgiram pistas do paradeiro de Arquimedes nem provas de que foi vítima de um homicídio. A família teme que ele esteja morto.
De inspetor a condenado por homicídio e estupro
Acima, uma das últimas fotos de Arquimedes feitas pela família antes do desaparecimento, em março deste ano
Arquimedes Luchtemberg Ribeiro se enredou em crimes quatro anos depois de ingressar na Polícia Civil. Em janeiro de 1984, matou dois homens, alegando reagir a um assalto perto da Usina do Gasômetro. Em agosto de 1985, protagonizou uma polêmica nacional ao revelar gravações em áudio e fotos de preso sendo torturado no Palácio da Polícia. O episódio resultou na queda da chefia da corporação e no indiciamento de cinco agentes, até o próprio Arquimedes. Todos foram absolvidos depois.
Um ano depois, Arquimedes foi preso acusado de raptar e estuprar uma jovem de 17 anos e também por tentar matá-la, ao jogar a garota com as mãos amarradas de cima de uma ponte do Guaíba. Em 1987, fugiu duas vezes da cadeia e expulso da Polícia Civil. No ano seguinte, o inspetor foi recapturado em Brasília, pelo então diretor da Divisão de Investigações, delegado Wilson Muller Rodrigues, a quem ameaçou de morte.
- A ameaça não teve importância porque, por causa da minha atividade, isso era comum - lembra o hoje vice-presidente da Associação dos Delegados da Polícia Civil.
Naquele mesmo 1988, Arquimedes foi condenado a 11 anos de prisão pelo duplo homicídio cometido em 1984, e sentenciado a 19 anos e meio de cadeia pelos crimes contra a adolescente. Em 2000, Arquimedes ganhou liberdade condicional. Voltou a ser preso pela Polícia Federal na Operação Patrimônio, em 2007, sob suspeita de envolvimento com uma quadrilha de furto e roubo de carros e, em 2008, foi pego em Santana do Livramento, na Fronteira Oeste, por receptação e porte ilegal de arma. É réu com outras 64 pessoas, incluindo Agripino Brizola Duarte, apontado como líder do assalto a dois bancos em Imigrante, no Vale do Taquari.