Em mais de três décadas de carreira, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, se tornou habitué nos casos de repercussão com políticos, empresários ou celebridades. Defendeu o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, o banqueiro Salvatore Cacciola, a atriz Carolina Dieckmann e o publicitário Duda Mendonça. Contabiliza ainda a defesa de mais de 70 governadores e uma penca de senadores. Aos 58 anos, três filhos e quatro relacionamentos, este mineiro não preza pela discrição. Chama atenção dentro e fora dos tribunais. Contador de causos, é proprietário de restaurantes frequentados pela corte do poder em Brasília, coleciona obras de arte e fotos com famosos.
Com a Operação Lava-Jato e os inquéritos solicitados pelo Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, Kakay ganhou clientes. Em seu escritório, no 12º andar de um edifício no coração da capital federal, o criminalista recebeu ZH para uma entrevista, dividida em quatro partes.
No trecho da conversa reproduzido abaixo, Kakay fala sobre sua tentativa de anular o processo contra Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), senador cassado em 2012 por quebra de decoro parlamentar, acusado de usar o mandato para favorecer o bicheiro Carlos Cachoeira. O criminalista alega que Demóstenes teve conversas telefônicas gravadas de forma ilegal:
Sua técnica é atuar em cima dos erros do Ministério Público e da Polícia Federal?
É uma obrigação usar todos os recursos legais. Com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), que foi cassado, tenho certeza de que vou anular o processo no STJ porque houve usurpação de competência, as escutas eram ilegais. Se há uma questão constitucional grave que acaba com o processo, é claro que uso. Isso não é subterfúgio.
Leia outros trechos da entrevista:
"Conheço as delações e sei que todas são mentirosas"
"Falar em impunidade no Brasil é uma falta de visão"
"A vantagem da celebridade é que a imprensa fica ao seu lado"
E o mérito? Demóstenes quebrou o decoro com sua relação com o bicheiro Carlinhos Cachoeira?
Só teria quebrado o decoro se tivesse mentido no plenário do Senado. Um dia cheguei à casa do Demóstenes e estava ele, Pedro Taques (ex-senador e atual governador do Mato Grosso) e outro senador. Queriam que Demóstenes fizesse um discurso. Li e disse que ele seria cassado, mas Taques afirmou que era preciso fazer. Cortei metade do discurso. Quem foi o algoz do Demóstenes? Pedro Taques. Isso é o jogo político.
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Pedro Taques puxou o tapete de Demóstenes Torres?
Claro, lógico. Depois fez um discurso moralista e tudo mais.
Mas a relação de Demóstenes e Cachoeira era adequada?
Estudei o caso no prisma constitucional. Como acho que ganho antes, a avaliação do mérito vai ser do eleitor, porque o Demóstenes vai poder voltar à política. Se você burla uma regra com um senador, vai burlar muito mais com o dono do botequim da esquina. É melhor que o Supremo anule o processo por causa de uma violação do que levar um caso a ferro e fogo.
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Fica a sensação de que pessoas com mais recursos têm mais chances de absolvição.
Óbvio que uma advocacia técnica tem maior chance de vencer. Quando o cidadão em casa vê o senador preso ou vítima de um vazamento, ele esquece o devido processo legal. Agora, se em um caso na família do cidadão for negada ampla defesa, ele vai querer o devido processo legal.