A presidente Dilma Rousseff anunciou nesta quinta-feira que deixará a reforma ministerial para a semana que vem. A baixa popularidade, a crise econômica e a ameaça de impeachment impuseram a Dilma uma nova realidade: se antes a presidente escolhia nos partidos aliados nomes de sua confiança, agora tem de aceitar as indicações, em especial as do PMDB.
Concebida para reduzir gastos, a reforma se converteu em tentativa de reconstruir a base. A Esplanada montada na virada do mandato desmornou, já que os ministros não converteram o cargo em votos no Congresso.
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Práticas anteriores foram revistas. Em janeiro, Dilma colocou o senador Armando Monteiro (PE) à frente do Desenvolvimento sem o aval do PTB, que fomenta o impeachment. Para restabelecer a relação, o Planalto aposta em ficar com Monteiro, que também afaga o empresariado - ele é ex- presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
- Ministro que não entrega voto não poderá ficar - resume um auxiliar presidencial.
A nova postura serve para o PDT, que se declarou independente. O antigo partido de Dilma trocará o Trabalho pelas Comunicações, que está com PT. Em vez de manter como ministro Manoel Dias (SC), pedetista histórico e seu amigo, a presidente acatará a indicação dos parlamentares da sigla, que devem escolher o deputado André Figueiredo (CE).
O ponto central das negociações é o PMDB. A importância da sigla do vice Michel Temer é tamanha que Dilma estuda reduzir de 10 para nove as pastas cortadas e deixa o anúncio das mudanças para depois de sua volta dos Estados Unidos, na segunda-feira à noite, onde tem compromissos na Organização das Nações Unidas - a presidente embarcou na noite desta quinta-feira.
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O adiamento se deve a um impasse com o PMDB. A bancada da Câmara resiste em reconhecer na sua cota a permanência de Henrique Alves (RN) no Turismo.
A negociação inicial daria cinco ministérios ao partido, com os deputados assumindo Saúde e Infraestrutura, fruto da fusão de Aviação Civil e Portos. Contudo, a presidente quer entregar seis. Vai manter na Aviação Eliseu Padilha (RS), braço direito de Temer, e transferir Helder Barbalho (PA) para os Portos, já que a Pesca será extinta.
Temer ressaltou a importância de preservar Helder, filho do senador Jader Barbalho (PA), um dos responsáveis pela reaproximação do Planalto com Renan Calheiros (AL). Assim, a área de infraestrutura ficou com o vice, o que irritou o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), que ameaça rever suas indicações. Nos bastidores, acredita-se que a pressão é para que a legenda ganhe uma sétima pasta.
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Apesar do discurso pela redução de ministérios, o PMDB manterá o número de cadeiras e trocará Pesca pela Saúde, maior orçamento da Esplanada. Na pasta, impõe indicações constrangedoras. O favorito é o deputado Manoel Junior (PB), que sugeriu em entrevista que Dilma renuncie.
A Saúde não será a única perda do PT, que pode ver seu lote da Esplanada reduzido de 18 para 13 vagas. Defendidas na campanha por Dilma, as secretarias de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Política para as Mulheres serão fundidas no Ministério da Cidadania, novo destino de Miguel Rossetto (RS). Pepe Vargas (RS), titular dos Direitos Humanos, retomará o mandato de deputado federal - o suplente Fernando Marroni deixará a Câmara.
O PT também corre o risco de ver o Desenvolvimento Social incluído na fusão do Trabalho com a Previdência. A ideia pode ser revista, pois desagradou deputados já irritados com a tesoura afiada no partido da própria presidente. Líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) contemporiza:
- Se a presidente fizer uma reforma ampla e atingir o PT, vai ter insatisfação, como terá em outros partidos. Faz parte do jogo.
*Zero Hora