Alberto Angerami é diretor do Departamento Nacional de Trânsito e presidente do Conselho Nacional de Trânsito. Em entrevista, ele fala sobre o fim da obrigatoridade, às vésperas do prazo final, da troca dos extintores de incêndio nos carros no país.
Os estranhos motivos que derrubaram a obrigatoriedade do extintor nos carros
Decisão sobre extintores contraria parecer da Câmara dos Deputados
Que peso os problemas de oferta e preço dos extintores ABC tiveram na decisão de rever a obrigatoriedade dos extintores em geral?
Não seria o maior peso. Entretanto, o Contran é um colegiado. A maioria dos conselheiros acha que os adiamentos constantes (da entrada em vigor da obrigatoriedade) maculam, tiram a credibilidade do órgão. Muitos se manifestam nesse sentido nas reuniões.
Mas também não macula a credibilidade do governo retirar a obrigatoriedade depois já ter levado as pessoas a comprar o equipamento?
Dez dias antes da edição da resolução, um jornal fez uma reportagem sobre como as pessoas estavam encontrando dificuldade para achar o extintor. Depois que a resolução foi editada, apareceram os extintores, num passe de mágica. Grandes estoques. São os especuladores. Esse pessoal é terrível. Gosta de mexer no bolso do trabalhador.
Como fica quem já tinha comprado o item?
Quem pagou pode usar durante cinco anos, porque o extintor tem validade de cinco anos.
Na medida em que foi adiando a entrada em vigor da obrigatoriedade, o Contran não estimulou as pessoas a comprarem o equipamento?
Nós acreditamos na associação dos fabricantes, de que não tinha no mercado, embora depois a gente percebeu que havia uma especulação muito grande.
Mas ao prorrogar datas...
As datas foram fixadas para que a gente não tomasse uma providência de maneira açodada.
E no caso da indústria, que investiu para produzir o novo tipo de extintor?
Sempre que se adota uma medida extrema, alguém sai prejudicado. Mas temos de pensar no bem comum.
Quando se decidiu pela adoção do extintor ABC, isso ocorreu depois de se chegar à conclusão de que o extintor era necessário, uma discussão que ocorreu dentro das câmaras temáticas. Uma reclamação que está sendo feita é que agora não se respeitou esse trâmite e se tomou uma decisão em gabinete.
Veja. Isso vem há muitos anos. Nós fomos em nossos anais para analisar aquilo que já havia sido feito.
Então foram usados agora os estudos feitos no passado?
Foram.
E como usando a mesma base saiu uma decisão tão diferente? A decisão anterior estava equivocada?
Não. Ela tinha de ser sopesada e estudada. A nossa pretensão era atender à modernidade. Isto é, o que os países de Primeiro Mundo estão fazendo em relação a extintores? É obrigatório?
Esses dados não foram levados em consideração antes?
Eu não posso fazer críticas aos meus antecessores. Nem quero fazer, porque eles deveriam ter suas razões.
Houve lobby da indústria automobilística para derrubar a obrigatoriedade?
Não. Não. Eles pretendem isso há muito tempo. Quando recebo as pessoas aqui, digo: não sou de criar dificuldade para vender facilidade. O meu comportamento é escorreito e viso sempre o bem comum.
O senhor sofreu alguma pressão?
Nenhuma pressão. Eles nem tem coragem de me pressionar, porque conhecem a minha dignidade e o meu caráter.