Ah, os meus arroubos de ingenuidade, de lirismo, de poesia. Tenho-os de forma descontrolada e muita vezes camuflada. Eu queria escrever alguma coisa linda sobre o Dia dos Pais.
Pensei em Valter Hugo Mãe, escritor que mudou de sobrenome para etiquetar em si o fascínio do feminino. Imaginei como seria texto e voz de Martha Medeiros Pai, de Alice Munro Pai, de Letícia Wierzchowski Pai. Muito complexo e masculino.
Outro devaneio em forma de dúvida. A origem desse amor tão profundo e único que sentimos pelos filhos. Biologicamente, é fácil explicar. Mecanismo de sobrevivência da espécie. Nascemos incompletos. Sem olhar e tenção, desexistimos em poucos minutos.
Mas nós, humanos, somos mais. Somos o insondável - dos confins do universo e dos começos de nós mesmos.
Me assaltou, então, aquele arroubo ingênuo de lirismo. Amar os próprios filhos é fácil. É natural. É biológico e social. Tanto que a ausência desse amor é doença feia e catalogada.
O que nos falta é o excesso. O bom excesso. Nossa paternidade precisa de alargamento. Deixar a via de mão única para virar infinita highway.
Humanidade é muito grande e difícil de abraçar com ideia. Tudo se dilui quando a gota se mete a filosofar sobre oceano. Mesmo assim, arrisco o mergulho.
A cura do mundo talvez seja uma tentativa. De cada um sentir um pouco do amor que sente pelos seus, também pelos filhos dos outros. O desamor não precisa. Que cada um guarde pra si. Inundar o planeta de paternidade. A Terra anda carente.
A mãe natureza às vezes fica tão triste é por falta de companhia.