Cada brasileiro consome, em média, 7,3 litros por ano de agrotóxicos, conforme dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). No Rio Grande do Sul, o volume é maior: de 8,3 litros ao ano. É como se cada gaúcho tomasse quase 14 garrafas de 600ml por ano de "veneno", como são chamados, popularmente, os insumos usados na agricultura, com a finalidade de controlar doenças e aumentar a produtividade.
Com objetivo de reduzir a quantidade de agrotóxico usada no Estado, a Assembleia Legislativa promoveu nesta sexta um seminário para discutir alternativas. O encontro contou com a presença da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que destacou duas frentes de trabalho que o governo federal já vem tocando: a avaliação de insumos de baixa toxidade para produzir alimentos orgânicos e a produção de um novo relatório com produtos que não poderão ser utilizados ou então com melhores formas de aplicação.
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- Estamos muito preocupados em produzir alimentos mais limpos e sustentáveis. Se tiver que usar (agrotóxico), temos que encontrar produtos de baixa toxidade. Sou daquelas que não procura problemas, mas aposta em soluções - afirmou Izabella.
A ministra, ao lado de integrantes do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual de Saúde, apontou o problema das intoxicações por insumos agrícolas - que acabam sobrecarregando e onerando o SUS. Mais do que isso, ressaltaram o limbo das subnotificações, já que os sinais da contaminação, por apresentarem sintomas comuns como dor de cabeça e náuseas, não são mapeados e, portanto, ficam à margem das políticas públicas.
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O encontro serviu para lançar a Frente Parlamentar Gaúcha em Defesa da Alimentação Saudável, que vai formar um grupo de trabalho com movimentos sociais, ecologistas e órgãos públicos - a iniciativa da frente é do deputado Edegar Pretto (PT).
Entre seus primeiros objetivos está a aprovação de uma lei que obrigue a rotulagem de agrotóxicos nos produtos e outra que proíba a pulverização aérea no Estado, alegando que pesquisas comprovam que apenas 30% do produto lançado atinge o alvo e o restante se espalha para outras áreas.
Mais de 800 pessoas participaram do seminário, entre elas representantes municipais gaúchos, ecologistas, pesquisadores e movimentos sociais, como a Via Campesina.
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Puxão de orelha nos gaúchos
Apesar de elogiar a iniciativa da Assembleia gaúcha, que historicamente ajudou a encabeçar discussões agroecológicas, a ministra deu um "puxão de orelha" nos gaúchos. O Estado está em último lugar no ranking nacional de adesão ao Cadastro Ambiental Rural (CAR), com apenas 3% das propriedades registradas, iniciativa pioneira que visa fazer um raio-X da agricultura.
- Esse cadastro acaba com o achismo ambiental e vai ajudar no combate ao agrotóxico com o mapeamento - justificou.