Em protesto contra o parcelamento de salários que atingiu 47,2% do funcionalismo, servidores públicos estaduais prometem cruzar os braços nesta segunda-feira, batizada de Dia da Indignação. Apesar de a mobilização colocar em xeque a prestação de serviços essenciais, o Palácio Piratini não tem uma estratégia definida para enfrentar a paralisação e minimizar os impactos de uma possível greve generalizada. Policiais militares (PM) já deram largada na operação-padrão no final de semana, e há a possibilidade de escolas não abrirem as portas. Bombeiros, policiais civis, agentes penitenciários e funcionários da saúde também estão entre as categorias que devem aderir ao protesto.
Setor por setor, saiba o possível impacto da paralisação no Estado
O governo do Estado admite que o cenário não será o de serviços "100% dentro da normalidade". No entanto, segundo o secretário-geral de Governo, Carlos Búrigo, a aposta continuará sendo no diálogo e na compreensão por parte das categorias que ganham acima de R$ 2.150 e tiveram seus vencimentos de julho divididos em três parcelas. Braço direito do governador José Ivo Sartori, Búrigo disse que as manifestações são legítimas e que o Piratini "respeita a posição e entende a situação difícil que os servidores estão enfrentando".
- O governo teve de parcelar salários não por sua vontade. Ninguém faz um ato desses porque quer e, sim, por necessidade. Não há recursos, e isso é um fato. Então, temos de somar esforços e dialogar para que possamos, de maneira ordeira, encontrar uma saída. Esperamos que os servidores entendam, pois a paralisação não vai ajudar em nada, só vai dificultar ainda mais a situação - avaliou.
Às 23h10 de domingo, uma nota oficial reforçando o que vem sendo dito pelo Piratini desde o anúncio do parcelamento foi publicada no site do governo estadual.
Parcelamento do salário de quase metade da folha de pagamentos deve se ampliar nos próximos meses
Questionado sobre medidas que podem ser adotadas em caso de agravamento da paralisação, o secretário afirmou que a cúpula do Executivo não trabalha com tal hipótese, mas avisou que, se isso acontecer, serão feitas "avaliações internas" para decidir os próximos passos. Ele não descartou a possibilidade de acionar a Justiça. A prioridade agora, conforme o secretário, é finalizar o pacote de medidas para lidar com a crise financeira do Estado que será enviado para Assembleia até a próxima sexta-feira.
"É uma notícia que ninguém gostaria de dar", diz José Ivo Sartori
Juliano Rodrigues: onde foi parar a transparência de Sartori?
- Entendemos que nenhuma ação radical de qualquer parte - nossa ou dos servidores - vai fazer com que o cenário mude de um dia para o outro. Sabemos que a culpa não é do servidor, porém, nosso maior gasto é com a folha. Infelizmente, não temos como escolher não pagar outra coisa, já não estamos pagando fornecedores. Os servidores também têm que se colocar no nosso lugar.
Comandante-geral afirma estar "muito preocupado"
Entre as áreas afetadas pelo movimento, a mais sensível é a da segurança pública. Servidores da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros decidiram pelo aquartelamento e, em uma nota, chegaram a pedir que a população permaneça em casa no dia de hoje. O comandante-geral da BM, coronel Alfeu Freitas Moreira, que passou o domingo no QG da corporação, admitiu estar "muito preocupado". No entanto, destacou que, por enquanto, não há nenhum indicativo de que a situação poderá sair do controle.
- Existe uma regra, tudo tem um limite. Aquilo que for ilegal ou irregular, com certeza, será punido. Estamos acompanhando, monitorando, e é prematuro falar em qual vai ser a redução - disse ele, lembrando que os militares são proibidos constitucionalmente de suspenderem suas atividades.
Com documentação de viaturas atrasada, policiais vão a pé ao Beira-Rio
Liminar permite que bancos fechem se não houver policiamento nesta segunda
No final de semana, em Porto Alegre, Pelotas e Santana do Livramento, PMs se recusaram a sair com viaturas em situação irregular, como problemas mecânicos ou documentação vencida. Conforme Freitas, o policiamento não foi prejudicado, pois os agentes utilizaram outros meios.
A direção do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transporte Coletivo Urbanos de Passageiros de Porto Alegre se reuniria na madrugada desta segunda para definir se a categoria também paralisaria os serviços. O motivo para os 8,6 mil rodoviários não trabalharem seria a falta de segurança devido ao possível aquartelamento dos PMs. O sindicato informou que, se a ameaça dos policiais se cumprisse, os rodoviários seriam orientados a não deixarem as garagens das empresas de transporte na Capital.
Colaborou Débora Ely