O mundo recordou nesta quinta-feira, com uma cerimônia em Hiroshima, o 70º aniversário do primeiro bombardeio nuclear da história, que levou o Japão à rendição e encerrou a Segunda Guerra Mundial.
Em 6 de agosto de 1945, um B-29, denominado Enola Gay, voava sobre a cidade e lançou uma bomba de urânio - dotada de uma força destrutiva equivalente a 16 quilotoneladas de TNT - que explodiu a 500 metros do solo. O número de mortos, no momento do impacto, é estimado em 140 mil por consequência da radiação.
Às 8h15min desta quinta-feira (20h15min de quarta-feira em Brasília), horário exato em que a destruição ocorreu há 70 anos, uma jovem e um estudante tocaram um grande sino, em meio ao canto das cigarras e do silêncio da multidão reunida no Parque Monumento da Paz de Hiroshima. O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e representantes de 100 países estiveram entre as 55 mil pessoas que compareceram à cerimônia.
- Como único país golpeado pela arma atômica, temos a missão de criar um mundo sem armas nucleares - declarou Abe ao discursar para a multidão.
O premier também revelou que o Japão apresentará este ano, na Assembleia Geral da ONU, uma nova resolução destinada a abolir o uso desses armamentos.
- Precisamos dizer que é uma recordação muito forte, não apenas do impacto duradouro da guerra nas pessoas, nos países, mas também destaca a importância do acordo que alcançamos com o Irã para que seu programa nuclear seja apenas civil - disse o secretário de Estado americano, John Kerry, em Kuala Lumpur, na Malásia.
A recordação este ano coincide com a tentativa de Abe de aprovar uma lei para reforçar o papel militar do Japão no cenário internacional, algo que a atual Constituição pacifista do país impede. Sobrevivente de Hiroshima, Yukio Yoshioka, 86 anos, criticou o primeiro-ministro por essa política.
- Não posso suportar isso. Ele pronuncia palavras com suavidade, mas a atitude do atual governo pisa nos sentimentos e as orações das vítimas - afirmou Yoshioka.
O prefeito de Hiroshima, Kazumi Matsui, também falou sobre a necessidade de o mundo eliminar as armas nucleares.
- Para coexistir, devemos abolir o mal absoluto e o cúmulo da desumanidade que representam as armas nucleares. Agora é tempo de agir - declarou Matsui.
Shinzo Abe depositou uma coroa de flores durante a cerimônia, que foi assistida pela embaixadora dos Estados Unidos no Japão, Caroline Kennedy, e pela subsecretária americana encarregada do controle de armamentos, Rose Gottemoeller, a mais alta funcionária de Washington já enviada ao evento anual em Hiroshima.
Sete décadas depois, uso da bomba atômica ainda provoca polêmica
Alguns historiadores estimam que se evitou um maior número de vítimas em uma guerra terrestre prolongada, mas outros consideram que o Japão estava muito próximo da derrota e que as bombas não eram necessárias para acabar com o conflito.
Paul Tibbets, piloto do Enola Gay, disse em uma entrevista em 2002, cinco anos antes de morrer, que "fez apenas o que deveria". Hoje, 56% dos americanos também consideram que os ataques nucleares foram justificados, segundo pesquisa realizada em fevereiro pelo instituto Pew Research Center. No entanto, o mesmo levantamento revela que 79% dos japoneses consideram que os ataques não têm justificativa.
Três dias depois da destruição causada em Hiroshima, a Força Aérea americana lançou uma bomba de plutônio na cidade portuária de Nagasaki, que deixou 74 mil mortos. Essas duas bombas significaram um golpe fatal no Japão Imperial, que se rendeu em 15 de agosto de 1945.
Washington, estreito aliado de Tóquio depois da guerra, jamais pediu desculpas oficiais por estes bombardeios.
* AFP