Quase um ano e meio se passou até a Polícia Federal finalizar o inquérito sobre a morte de dois irmãos, assassinados por índios caingangues em Faxinalzinho, pequena comunidade agrícola do norte do Rio Grande do Sul. Um total de 26 indígenas foi indiciado por duplo homicídio qualificado.
Caso sejam condenados num Tribunal do Júri, os suspeitos estão sujeitos a até 40 anos de prisão, cada um.
A qualificação do homicídio acontece porque os mortos, os agricultores Anderson de Souza, de 27 anos, e Alcemar Batista de Souza, de 41, foram trucidados. Ambos foram agredidos com pauladas e pedradas, antes de sofrerem tiros de misericórdia disparados com espingardas. Até uma lança foi usada contra Alcemar, segundo exame do Departamento Médico Legal (DML).
O crime aconteceu em 28 de abril de 2014, quando os dois irmãos tentaram furar uma barreira de protesto montada pelos indígenas numa estrada estadual. Cinco caingangues foram presos temporariamente pela PF na época, em maio de 2014, mas foram soltos após pouco mais de 30 dias, por determinação da Justiça Federal. Entre eles estava o cacique Deoclides de Paula, 41 anos, que agora também foi indiciado, segundo a PF, por comandar a ação que resultou nas mortes.
O cacique, em entrevista a Zero Hora, disse que o conflito ocorreu por culpa da indefinição do Ministério da Justiça a respeito da disputa de terras entre índios e colonos brancos na região norte do Estado.
O inquérito foi enviado hoje pela PF à unidade do Ministério Público Federal (MPF) em Erechim.
O delegado Mauro Vinícius Soares de Moraes, chefe da delegacia da PF em Passo Fundo, diz que o inquérito foi embasado em testemunhos e também na perícia de armas usadas no duplo homicídio.
Nenhum dos indígenas concordou em prestar depoimento à PF. Eles vão responder pelos crimes em liberdade.
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Veja no mapa onde ocorreu o conflito: