O papa Francisco alertou nesta terça-feira sobre "os sectarismos" e a tentação das "ditaduras" e "lideranças únicas", em sua segunda missa campal no Equador, durante a qual pediu "inclusão em todos os níveis" e "diálogo" no país, atingido há um mês por protestos.
- A imensa riqueza da diversidade (...) nos afasta a tentação de propostas mais próximas das ditaduras, ideologias e sectarismos - advertiu Francisco no Parque Bicentenário de Quito, na presença de 900.000 fiéis.
A este respeito, ele chamou a "lutar pela inclusão em todos os níveis" e promover o "diálogo" em uma aparente referência às manifestações contra e a favor do presidente Rafael Correa, que participou da missa.
O presidente equatoriano, um confesso admirador de Francisco e que se descreve como um "católico humanista de esquerda", enfrenta há alguns meses protestos frequentes que exigem sua saída do poder pela rejeição à políticas de corte socialista que, segundo o governo, pretendem redistribuir a riqueza através da cobrança de impostos aos mais ricos.
Durante a missa, o papa também evocou o grito de liberdade, há 200 anos, na América Latina.
- Aquele grito de liberdade (...) não careceu de convicção nem de força, mas a história nos conta que só foi forte quando deixou de lado os personalismos, o desejo de lideranças únicas - lembrou Francisco.
O papa lançou seu desejo por uma "revolução" para evangelizar a América Latina, para que se torne "um grito" para "curar as feridas", "construir pontes" e lutar "pela inclusão em todos os níveis".
A "revolução" defendida pela Igreja na América Latina é comparável à protagonizada há 200 anos pelos países sul-americanos para conquistar a independência da Espanha, e de acordo com o Papa nasceu "da consciência da falta de liberdades".
Francisco, que chegou ao Equador no domingo, falou em sua homilia sobre questões sociais, as injustiças e conflitos globais. Ele vestiu sobre a batina branca uma casula com impressões em preto e branco feitas por índios.
Chamado indireto ao Equador
As palavras do papa provocaram comentários entre os fiéis, que as identificaram como uma mensagem ao governo de Correa e a seus opositores.
- De uma maneira indireta ele disse ao presidente que leve em conta que há pessoas que não têm as mesmas ideias, pedindo que mude de alguma maneira certas coisas que as pessoas não estão de acordo - declarou Felipe Lascano, um estudante de 22 anos.
Antes da missa campal, o papa Francisco tentou amenizar a tensão no Equador, em função dos protestos.
- Vou dar a benção para este grande e nobre povo equatoriano; para que não haja diferenças (...), que não haja gente que se descarte. Que todos sejam irmãos, que se incluam todos e que não haja ninguém excluído desta grande nação - disse o Papa segunda-feira à noite em visita à catedral metropolitana.
Antes da missa, o Papa se reuniu com os bispos equatorianos. Esta tarde visitará a Universidade Católica e concluirá o dia com um encontro com a sociedade civil.
Na quarta-feira, Francisco concluirá sua visita ao Equador com visitas a um asilo e ao santuário da Virgem de El Quinche, nos arredores de Quito.
O papa retorna à América do Sul depois de visitar o Brasil em 2013, para um giro de oito dias que termina no domingo, no Paraguai.
*AFP