Não há como medir a comoção que vestiu Caxias do Sul com a morte de Ana Clara Benin Adami, 11 anos. A menina morreu na noite da quinta-feira após ser baleada à tarde no abdômen, quando ia para a catequese, no bairro Pio X. Não bastasse a violência, a falta de uma explicação para a barbárie estarrece familiares, amigos e até a polícia. Aparentemente, o homem que atirou contra Ana Clara não tinha motivação alguma. Ele não teria dito nada à garota ou roubado qualquer pertence dela. Pelo menos é o relato de uma amiga de 11 anos (leia abaixo) que estava com Ana Clara quando o crime aconteceu.
"Está faltando algo nessa narrativa", diz delegado sobre morte de menina em Caxias
Há relatos extraoficiais de que Ana Clara teria recebido ameaças pelas redes sociais após uma suposta briga com uma garota que se identificou como pertencendo a uma gangue.
- Nenhuma hipótese é descartada, mas é difícil digerir que um indivíduo se aproxime e atire na menina por conta dessa ameaça. Essa morte causa espanto porque não conseguimos vislumbrar uma motivação para ele ter se aproximado e atirado contra ela - explica o delegado Rodrigo Duarte.
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Ainda assim, a polícia irá verificar as redes sociais e o celular de Ana Clara. Além de ouvir testemunhas do crime e os familiares da garota, a polícia busca imagens de câmeras de segurança que possam ajudar a identificar o atirador e o que de fato ocorreu no dia do crime, trabalho que pouco avançou: as poucas imagens capturadas passam por análise da polícia, mas a maioria dos equipamentos estavam desligados ou não gravaram.
"O pai só me dizia: nada vai trazer ela de volta", conta professora sobre morte de menina em Caxias
Ana Clara e a amiga caminhavam pela Rua Marcos Moreschi, na região dos fundos da igreja, por volta das 13h30min de quinta. Elas estavam a cerca de 10 metros da casa onde frequentariam as aulas da pré-Crisma, quando Ana Clara foi atingida pelo disparo. O crime ocorreu quase na esquina com a Rua Campo dos Bugres. Ana Clara passou por cirurgia no Hospital Geral e morreu por volta das 21h20min.
Torcedora do Juventude e dedicada às tarefas na escola
O desespero de colegas e professores mostrava como Ana Clara era querida no Colégio São João Batista, onde estudava. A menina cursava o 7° ano do Ensino Fundamental, era disposta e participava de várias atividades extras. Fazia aulas de violão e jogava futebol. Na manhã desta sexta-feira, as aulas foram suspensas pela escola.
- Se dava muito bem com todo mundo. Basta ver o desespero dos nossos alunos. O pai dela só me dizia "nada vai trazer ela de volta" - afirmou a professora Marlova Spagnol no velório da menina, na Capela Nossa Senhora das Neves, em Linha 40, onde moram os avós de Ana.
Colegas se emocionam no velório de menina baleada em Caxias do Sul
No velório, os colegas de Ana Clara escreveram mensagens, deixadas na capela. Na porta da igreja, os estudantes recebiam crisântemos brancos para deixar junto ao corpo. Acompanhados de um violão, eles cantaram Amigos para Sempre e rezaram.
O perfil da menina nas redes sociais acumula mensagens de pesar e apoio à família. O Juventude, time da garota, também prestou homenagem enviando uma coroa de flores e decretando um minuto de silêncio neste domingo, às 16h, no jogo contra o Tombense, no Estádio Alfredo Jaconi.
A menina era filha única de Sérgio Adami e Márcia Elisa Benin. Eles seriam proprietários de uma fábrica de pipas. O enterro ocorreu nesta sexta, no Cemitério da comunidade da Linha 40.
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Entrevista com amiga da vítima
Como aconteceu?
Ele só deu o tiro e saiu correndo.
Como ele atirou?
Foi quando ele estava atravessando a rua. Ele continuou andando, mas só virou a arma. Poderia ter atingido a mim.
Vocês estavam de mochila?
Estava com bolsa no ombro, e ela de mochila. Ele não pegou nada.
Ele pediu o celular ou a mochila de vocês?
Não. Não disse nada.
Você viu ele antes?
Olhei para trás e parecia um cara normal. Acho que tinha uns 20 anos. Não lembro do rosto. Estava com tipo uma jaqueta ou blusão cinza-escuro com azul. A calça não consegui ver. Era moreno.
Ele passou vocês para atirar?
É, ele meio que andou um pouco mais rápido, só deu uma olhada e atirou.
Ela disse algo após o tiro?
Que não queria morrer. Ela disse "ele me tacou alguma coisa". Não tinha se dado conta.
E você, o que pensou?
Pensei que eram aquelas bombinhas de jogar no chão. Achei que era brincadeira. Aí, vi o sangue.
Como você está?
Fiquei aterrorizada. Estou tremendo. Não sai a imagem da cabeça. Foi muito horrível.