O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Vital do Rêgo teria recebido dinheiro desviado de um contrato da prefeitura de Campina Grande (PB) durante sua campanha ao Senado em 2010. A denúncia foi feita por Rennan Trajano Farias, ex-tesoureiro do Executivo municipal, ao jornal Folha de S.Paulo. Esse é o segundo caso recente de suspeita de corrupção envolvendo integrantes do TCU - o presidente do tribunal, Aroldo Cedraz, e o ministro corregedor, Raimundo Carreiro, também são alvo de denúncias.
O esquema teria desviado cerca de R$ 4 milhões, segundo Farias, de um contrato de R$ 10,3 milhões entre a prefeitura e a empreiteira JGR. O ex-tesoureiro disse que fez entregas de dinheiro ao irmão do ministro, o deputado federal Veneziano Vital do Rêgo (PMDB-PB), e a empresas que atuavam nas campanhas da família. Em 2010, Vital do Rêgo foi eleito senador pelo PMDB-PB. Veneziano era prefeito de Campina Grande.
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Na duas gestões de Veneziano (2005-2012) na prefeitura, Farias foi diretor financeiro da Secretaria de Finanças. Segundo o denunciante, o rompimento dos dois ocorreu porque a família Vital do Rêgo teria deixado de reconhecer dívidas que ele contraía com agiotas (cerca de R$ 10 milhões) para financiar as campanhas. Farias afirma que ainda deve R$ 1 milhão, "perdeu tudo", foi ameaçado de morte e chegou a tentar suicídio. Teria decidido revelar o esquema depois que passou a frequentar uma igreja evangélica.
Farias afirmou à Folha ter feito entregas de dinheiro em espécie "diretamente" no apartamento do ministro, no bairro da Prata, em Campina Grande.
Vital do Rêgo é um dos nove ministros que irá julgar, em agosto, as contas da presidente Dilma Rousseff no TCU - o governo entregou explicações para análise na semana passada.
Dúvidas sobre a corte
Vital do Rêgo
A denúncia
A prefeitura de Campina Grande (PB) contratou a empreiteira JGR para obras - os serviços seriam feitos por terceiros. Os cheques da prefeitura seriam repassados a outras empresas, Compecc e Contérmica, sediadas em João Pessoa. Elas sacariam o dinheiro e repassariam ao ex-tesoureiro da prefeitura, responsável por entregar valores aos políticos da família Vital do Rêgo.
A defesa
Em nota, Vital do Rêgo negou ter recebido recursos irregulares e disse que já interpelou judicialmente o ex-tesoureiro em dezembro de 2013, para que explicasse vídeo divulgado no internet com acusações à família. A representação foi arquivada. Veneziano Rêgo classificou as declarações de Farias como "infâmias". A Compecc negou participação em irregularidades.
Aroldo Cedraz
A denúncia
Presidente do TCU, Aroldo Cedraz tem um fiho, o advogado Tiago Cedraz, na mira da PF. Delator da Lava-Jato, o dono da UTC, Ricardo Pessoa, disse que fazia pagamentos mensais de R$ 50 mil a Tiago para obter informações de seu interesse no tribunal. Por um processo que envolvia obras em Angra 3, o filho do ministro teria recebido R$ 1 milhão de Pessoa para que o caso fluísse.
A defesa
Aroldo e Tiago Cedraz negaram participação em irregularidades. O presidente do TCU disse não ter relação com as atividades do filho e que não teve ingerência sobre nenhum processo do escritório dele. O ministro do TCU Raimundo Carreiro, que, segundo Pessoa, teria recebido valores por meio de Tiago, igualmente rechaçou as suspeitas. Carreiro foi relator do processo que interessava à UTC.