O continente americano já tem a sua Grécia. E, diferentemente do que afirmam analistas brasileiros com passagem por equipes econômicas de outras eras, não é o Brasil. A dívida do território americano de Porto Rico (3,6 milhões de habitantes, PIB de cerca de US$ 100 bilhões e dólar como moeda) atingiu a soma fabulosa de US$ 72 bilhões. A conta é inferior apenas às dívidas dos Estados de Nova York e da Califórnia.
O mais preocupante, porém, é o perfil dos credores: a maior parte dos títulos portorriquenhos está nas mãos de investidores americanos dos mais variados perfis - de vetustos fundos de pensão cujos cotistas descansam ao sol da Flórida a sociedades do tipo que a presidente Cristina Kirchner gosta de chamar de "abutres".
No início, os papéis de Porto Rico tornaram-se atraentes porque eram isentos de impostos. Depois, quando ficou claro que a ilha se encaminhava para a falência - o governador local já disse que a dívida é impagável -, passaram a atrair o tipo de gente que não ficaria mal na mais recente versão de Piratas do Caribe.
Como território, Porto Rico não pode declarar falência, diferentemente de outros entes da federação. Um projeto de lei que estende o direito à ilha já enfrenta o lobby dos credores. O secretário do Tesouro, Jacob Lew, disse ao Congresso que, sem a mudança, o resultado será "caótico, arrastado e penoso para Porto Rico e, mais amplamente, para os EUA". Convém não perder a crise portorriquenha de vista. Afinal, é aqui no nosso quintal.
Olhar Global
Luiz Antônio Araujo: é Porto Rico, estúpido
Leia a coluna Olhar Global desta sexta-feira em ZH
Luiz Antônio Araujo
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project