Desde a manhã desta sexta-feira, milhares de servidores públicos que tiveram os salários parcelados pelo governo gaúcho estão com calculadoras nas mãos e quebrando a cabeça para saber como administrar as suas vidas nos próximos meses.
São professores, brigadianos, policiais civis, técnicos e aposentados cujas famílias dependem dos vencimentos para se alimentar, para habitar uma casa com o mínimo de conforto e dignidade, e também para outras necessidades básicas.
Embora o atraso estivesse sendo cogitado pela imprensa desde a metade do mês, a medida só foi confirmada na noite passada pelo vice-governador José Paulo Cairoli. Horas antes, questionado sobre essa possibilidade, o governador José Ivo Sartori ainda deu esperanças aos funcionários e declarou que aguardava o comportamento do caixa no dia seguinte (hoje), mesmo sabendo que a situação era irreversível, em um claro sinal de desconsideração com os funcionários públicos e com a verdade. Por quê?
Descontadas todas as nuances técnicas das finanças do Estado, o governo já sabia, desde a metade do mês, que faltaria dinheiro para pagar a folha do funcionalismo. Em abril e maio, o Piratini promoveu a Caravana da Transparência, divulgou os detalhes da situação do Rio Grande do Sul e se gabou por não dourar a pílula e por não esconder a crise dos gaúchos. Por que, então, os servidores públicos ficaram sabendo pelo Banrisul, ao acessarem os seus extratos, que não teriam o salário completo?
Por mais que a imprensa, que faz o seu papel ao buscar a informação e preservar as fontes, já tivesse anunciado e alertado o funcionalismo para essa possibilidade, o governo não havia confirmado oficialmente o atraso, e ainda não há uma justificativa convincente para essa falta de transparência.
Em um gesto questionável (para dizer o mínimo), Sartori terceirizou ao secretário da Fazenda, Giovani Feltes, a responsabilidade de anunciar a mais dura medida adotada pelo seu governo. O governador fará um pronunciamento em vídeo e, por enquanto, vai ignorar os questionamentos dos jornalistas e da sociedade gaúcha.