Dois casos de ataques a condomínios ocorridos em Porto Alegre entre abril e maio desafiam a Polícia Civil. Mas, ao contrário do que ocorreu na ação contra o Edifício Vivendas Bela Vista, no bairro Rio Branco, em que não há registros gravados, nestas duas ações houve a captura de imagens claras dos criminosos. As gravações servem como alerta sobre como condomínios podem se precaver de assaltos.
ZH teve acesso às cenas, que indicam que os dois ataques - nos bairros São João e Bela Vista - teriam sido protagonizados pelo mesmo grupo. A estratégia adotada é usar um homem trajando roupas semelhantes a de carteiro para facilitar a entrada no local. Depois que o falso funcionário dos Correios ingressa, ele dá acesso aos parceiros. Não é possível ver pelas imagens que tipo de armas o grupo usa.
A primeira ação, que é investigada pela 3ª DP, ocorreu na Rua Marcelo Gama, em 18 de abril. Às 8h32min daquele sábado, o criminoso vestido de carteiro e carregando uma caixa para em frente ao prédio e entra assim que o porteiro destranca o portão. Dois minutos depois, ele abre o portão dando acesso aos comparsas, que estão vestidos como prestadores de serviço, usando capacete e boné. Um carrega uma caixa de ferramentas. Às 8h42min, ingressa no local um quarto integrante do grupo, um motoqueiro.
Outra câmera capta o momento em que os dois supostos prestadores de serviço entram no elevador levando o porteiro junto. O porteiro é obrigado a carregar a caixa que o falso carteiro levava. O alvo do grupo era um apartamento onde haveria uma coleção de moedas, oriunda de uma herança. Eles chegaram a perguntar por moedas de ouro. No local, estava apenas a filha dos moradores. Os ladrões ficaram cerca de duas horas no local, vasculhando. Sem encontrar as moedas (o dono do apartamento já teria se desfeito do material), eles roubaram R$ 1,3 mil, jóias, roupas e um Ipad.
Bando era liderado por homem com distintivo da Polícia Federal
As imagens mostram o quarto elemento do grupo entrando e saindo do prédio mais de uma vez. Ele parece ser responsável por monitorar a possível aproximação da polícia. Em dois momentos ele tenta deixar o portão sem trancar, usando, primeiro, um jornal e, depois, uma caneta ou lápis. Às 10h38min, o falso carteiro sai do local, deixando o portão semiaberto. Às 10h42min, a dupla que foi até o apartamento sai carregando os objetos roubados. Os dois se juntam ao homem que usa roupa dos Correios e saem, inicialmente, a pé. O quarto criminoso, que já está com a moto, acompanha o trio lentamente.
Cerca de um mês depois, em 16 de maio, três homens, usando a mesma estratégia e até as mesmas roupas flagradas no primeiro caso, tentam assaltar o apartamento de um médico que está de viagem marcada para o Exterior naquele dia. A tentativa de assalto ocorre na Rua Antonio Parreiras. O médico desconfiou, já que não esperava nenhuma entrega, e não autorizou a entrada do carteiro no prédio.
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O falso entregador insistiu em entrar, alegando que precisava da assinatura do porteiro para justificar a não-entrega do material. Assim, o grupo conseguiu acesso ao condomínio. O porteiro foi levado até o apartamento do médico com o pacote. Pelo olho mágico, o médico avistou os homens e disse que chamaria a polícia. O trio acabou fugindo sem levar nada. Este caso é investigado pela 8ª DP.
A polícia ainda não tem pistas sobre a identidade dos criminosos. Quando um grupo fortemente armado invadiu o Edifício Vivendas Bela Vista, no bairro Rio Branco, dois dias depois da tentativa de assalto na Antônio Parreiras, a polícia suspeitou que os casos pudessem ter ligação. Mas a hipótese já foi descartada pela Delegacia de Roubos.
PREVINA-SE
Orientações da Polícia Civil
- Os criminosos se aproveitam da imagem da "ausência de perigo" que um funcionário dos Correios representa para obter passe livre às dependências dos condomínios.
- Nenhuma pessoa vestida de prestador de serviço ou funcionário público (como policiais) deve ter passe livre sem se identificar.
- Os moradores devem unificar um procedimento dentro dos seus condomínios, o qual deve ser passado de forma expressa e taxativa aos seus funcionários de zeladoria e portaria, de forma que tenham uma unidade para receber os Correios.
- Para evitar contato pessoal, o melhor é a instalação das já antigas caixas de correios (ou caixas postais) do lado de fora do prédio (com a individualização de cada apartamento), nas primeiras grades do imóvel.
- Em caso de encomendas maiores, como as utilizadas pelos criminosos, o ideal é não deixar o carteiro ingressar nem sequer na primeira (se houver mais de uma) entrada do prédio. O porteiro/zelador deve fazer toda a comunicação via interfone.
- O porteiro/zelador deve fazer contato com o destinatário para saber se a encomenda é mesmo esperada.
- Se o morador não for localizado, o ideal é que o zelador/porteiro não receba a encomenda e apenas fique com os dados e informe o morador.
- É aconselhável que o próprio morador deixe um aviso na sua portaria de que está para receber uma encomenda de determinado remetente.
- Em muitos condomínios, o porteiro/zelador já conhece o carteiro que trabalha na região, sendo prudente desconfiar quando constatar que a pessoa com as vestes dos Correios não é a mesma. Se o suposto carteiro insistir entregar algo, acione o 190.
- Se um morador desconfiar de que o condomínio foi invadido, deve ligar para o 190, e evitar ficar exposto.
Procedimento dos Correios
- O uso do crachá é obrigatório para todos os empregados dos Correios. Ali constam nome, matrícula funcional, RG e CPF, além de conter a foto do empregado.
- Em caso de encomendas ou outras formas de entrega em que é necessário assinar recibo, é possível deixar os objetos na portaria, desde que o porteiro seja a pessoa designada pelos moradores para recebê-los.
- Caso o porteiro não seja a pessoa para receber encomendas, não será necessário assinar documento para o carteiro.
- Dúvidas pelo canal Fale com os Correios, no site dos Correios ou ligações pelo telefone 0800-725-0100.
Fontes: Márcio Cesa, inspetor da 8ª Delegacia da Polícia Civil e assessoria de comunicação dos Correios