Tocou o meu celular. Número desconhecido, de Brasília. Jurei ter reconhecido a voz, que tinha um forte, quase caricato, sotaque carioca: "É o jorrnalishta Tulio Milman?"
Sim, sou eu, respondi. Eu já sorria o sorriso triunfal de vitória. "Aqui é o minishtro Fulano do Tribunal Superior do Trabalho....". Eu, pensando: "Chegou a hora da vingança, Pretinho Básico. Chegou a hora do massacre, Duda Garbi. Peguei vocês."
E o minishtro falando, e eu, meio irônico, dando corda. "Sim, ministro". "Ótimo, ministro". E eu tentando pensar rápido em como dar a volta em mais uma tentativa de trote dos meus queridos amigos da Rádio Atlântida.
E o minishtro me contando sobre um evento do qual ele participaria em Porrrrrto Alegre. Eu, ofegante, sentindo o gosto da presa em minha boca. É o meu dia. Ganhei.
Era um trote bem dado. Datas, nomes, tudo estudado. Trabalho de profissional. E o minishtro falando. E eu rindo.
Eu só esperava a deixa, eu só esperava uma pausa para soltar: "Tá bom, Duda, desta vez não rolou. Vai catar coquinho e me deixa trabalhar". E eu iria rir muito, escrever uma coluna, botar no Twitter. Peguei os desgraçados antes que eles me pegassem.
Eu imaginava o Fetter, o Potter e o Piangers no estúdio, ouvindo a conversa do otário do Tulio, que caiu mais uma vez. Desta vez, não. A terceira vez, não.
Vou falar. Vou falar. Um, dois, três e... o ministro engatou um certo juridiquês. Discorreu com propriedade sobre medidas provisórias, jurisprudências e data venias. O Duda Garbi é um cara culto, coisa e tal. Mas aquilo era demais para um leigo.
Tranquei a respiração. Fiz duas perguntas sérias, tímidas. E fiquei torcendo. Glob! Ele respondeu. E me dei conta de que o minishtro era mesmo um ministro. De verdade. De Brasília. Do TST.
Não sei se ele notou, mas minhas respostas sucintas e desconfiadas se transformaram repentinamente em um elétrico fluxo de conversação. Enquanto eu falava, imaginava o que poderia ter acontecido. O que eu quase disse.
Tudo culpa do Duda Garbi, a quem confesso que estou doente: EPT - Estresse pós-trote. É um horror. Dizem que é incapacitante. Tenho boas chances de vitória em uma eventual ação na Justiça do Trabalho. Ah, isso eu tenho.