Uma investigação de um ano sobre o tráfico de drogas em Cidreira - que abrangeu a apuração sobre a maior chacina do Estado nos últimos 14 anos - culminou com o cumprimento de 29 mandados de prisão temporária e 12 de busca e apreensão nesta terça-feira. Até as 9h, 21 pessoas haviam sido detidas em Cidreira, Porto Alegre e Eldorado do Sul.
O trabalho da Polícia Civil teve início com uma análise da venda de entorpecentes no município do Litoral Norte. A partir disso, foi detectada uma célula da facção criminosa Bala na Cara atuando lá.
- Fomos identificando os elementos, o que acabou confirmando a presença dos Bala na Cara tanto em Cidreira quanto em outras cidades do entorno. Ao longo da investigação, houve a prisão da gerente (da facção) que atuava na cidade - explica a delegada Ana Luiza Tarouco, responsável pela Operação Caça-fantasma.
E foi a captura dessa mulher, segundo a polícia, que desestabilizou a atuação dos traficantes. Eles teriam perdido o ponto conhecido como Pousada do Celomar, cenário da chacina em abril, na qual foram mortos adolescentes e jovens entre 15 e 26 anos. De acordo com a policial, outro traficante assumiu o local e quem atuava ali ficou devendo para os Bala na Cara - por isso, começou a pegar drogas de um fornecedor diferente.
- É claro que isso eles não iam deixar barato. E, no dia 12 (de abril), nós sabemos o que aconteceu: houve um acerto de contas. Não se pode dizer que o alvo tenha sido as seis pessoas, mas na ocasião as seis estavam no mesmo ambiente. Era para não restar testemunhas, o que não aconteceu, porque duas testemunhas sobreviveram - acrescenta a delegada.
Na operação desta terça-feira, que contou com mais de cem policiais civis e militares, foram presos a mulher apontada como mandante da chacina e o suspeito de ser um dos executores. Conforme a Polícia Civil, outro executor já foi morto e há duas pessoas em fase de identificação.
A partir de agora, a DP tem 30 dias para concluir o inquérito e remeter à Justiça. Ainda há investigações e buscas em curso.
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Bala na Cara no Litoral
A chegada dos Bala na Cara ao Litoral Norte não é de agora. A Polícia Civil estima que, só em Cidreira, a facção dominava sete pontos de tráfico, além de atuar em outras cidades do entorno. A mulher apontada como gerente do grupo na região e que foi detida estaria há pelo menos três anos no município.
- Quando houve a chacina, eles (os criminosos) saíram da cidade, abandonaram suas residências aqui na praia e foram para o Bom Jesus (bairro da Capital, reduto da facção) na tentativa de se esconder lá - relata Ana Luiza.
Conforme a delegada, a Operação Caça-fantasma não teve a pretensão de acabar com o tráfico de entorpecentes em Cidreira:
- É uma guerra que nós perdemos diariamente, mas o trabalho da polícia foi feito, a resposta à comunidade está sendo dada.
A chacina
O crime ocorreu na madrugada do dia 12 de abril em uma pousada do Bairro Nazaré - a chacina é a maior dos últimos 14 anos no Rio Grande do Sul. Um homem invadiu o estabelecimento e disparou cerca de 40 tiros contra os hóspedes.
Morreram no local Andriel Silva de Souza de Moraes, o Gordo, 24 anos, Lucas Souza da Rocha, 17, Fabiano Soares da Cunha, 15, Lucas Rafael Rodrigues Duarte, 15, e Endriqui dos Santos Gaspar, 19 anos. Robson Durão Leão, o Quinho, 26, morreu no hospital. O único sobrevivente foi David de Mello Carvalho, 23 anos.
* Diário Gaúcho
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