Novo convênio entre o Ministério da Justiça e o governo do Acre permitiu a contratação de 45 ônibus para transportar mais imigrantes haitianos e senegaleses desde Rio Branco (AC) até São Paulo, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre. Desses, 25 têm as três capitais do sul do Brasil como destino - os outros 20 rumarão a São Paulo. A parceria da União com Acre prevê R$ 2 milhões para levar refugiados a cidades onde possam encontrar emprego.
Reportagem especial mostra saga dos imigrantes haitianos e senegaleses
As viagens desse convênio começaram no dia 24 e, até agora, oito veículos já deixaram o Acre. Em Rio Branco, o abrigo que recebe os imigrantes está, no momento, com 160 pessoas, abaixo da capacidade limite de 200. A redução é reflexo da saída constante de ônibus. O alojamento chegou a ter mais de mil refugiados.
Secretário dos Direitos Humanos da prefeitura de Porto Alegre, Luciano Marcantônio informa que não é possível estimar quantos deverão chegar até a Capital. No trajeto, muitos descem em outras cidades e não há cronograma exato de partida. Do atual convênio, três ônibus estacionaram na rodoviária porto-alegrense entre sábado e segunda, com 41 imigrantes. Marcantônio diz que a comunicação com o Acre melhorou:
- Agora, eles enviam a lista com o nome dos passageiros que virão a Porto Alegre, a nacionalidade, o sexo, e durante a rota temos um grupo no WhatsApp em que as secretarias de Estados e municípios trocam informações com o Ministério da Justiça.
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Os imigrantes que não tiverem local para hospedagem são encaminhados ao abrigo no Centro Vida, na zona norte de Porto Alegre. Cerca de 35 refugiados já estão no local.
- Nós os acolhemos com respeito e atenção, mas temos limite orçamentário. Estamos pleiteando, com o governo estadual, que o Ministério da Justiça nos repasse recursos para que possamos transformar o Centro Vida em um abrigo permanente de acolhimento dos imigrantes - ressaltou Marcantônio.
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Nesta semana, diz o secretário, a expectativa é de recebimento de mais dois ônibus.
UMA LONGA JORNADA
Haitianos: saem de diferentes regiões do Haiti, de ônibus ou avião, para a República Dominicana. De lá, vão de avião ao Equador, onde iniciam viagem de ônibus, cruzando o Peru, inclusive com trechos feitos a pé. Assim, chegam ao Acre.
Senegales: a partida de avião é na capital Dacar rumo a Madri, na Espanha. De lá, voam até Guayaquil, no Equador. A partir daí, se unem aos haitianos e imigrantes de outras nacionalidades na rota pelo interior equatoriano e peruano.
Motivação: para permanecer no Brasil, eles alegam perseguição política ou questões humanitárias. Encaminham essa documentação na Polícia Federal, mas enquanto perdura a tramitação, que pode levar até um ano, recebem autorização para permanecer aqui e trabalhar. O governo brasileiro também concede vistos humanitários, criados pelo Conselho Nacional de Imigração por meio de uma resolução normativa exclusiva para haitianos.
Documentação: a maioria dos haitianos e senegaleses chega ao Brasil de maneira ilegal - por isso, não é possível pegar voo diretamente para um aeroporto daqui.
Autorização para ficar: é preciso comprovar não ter antecedentes criminais. Os imigrantes solicitam à Polícia Federal um protocolo de refúgio. Mesmo enquanto aguarda resposta ao pedido, o imigrante tem direito de trabalhar com carteira assinada, e também acesso à saúde e à educação. Além de embarcar nas viagens organizadas pelo governo do Acre, rumo ao Sul e Sudeste e pagas pelo governo federal, pegam ônibus regulares ou clandestinos.
Desembarques extras
Novo convênio traz mais imigrantes a Porto Alegre
Haitianos e senegaleses voltaram a fazer viagens de ônibus saindo do Acre com destino a São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul
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