Os riscos de calote da Grécia junto aos credores e de uma eventual saída daquele país da zona do euro ainda têm impactos pequenos e limitados no Brasil, na avaliação de economista e analistas ouvidos pelo Broadcast. No entanto, a volatilidade nos mercados internacionais e a aversão ao risco podem provocar turbulências no Brasil. Além disso, ajustes pontuais devem ocorrer na esteira da crise grega, entre eles o crescimento do risco-país de emergentes. Os analistas não descartam ainda um possível adiamento no início da alta de juros nos Estados Unidos.
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Segundo o analista de mercados e de economia internacional da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto, "a situação brasileira do ponto de vista econômico é tão delicada que a crise grega seria uma questão a mais para ajudar a complicá-la". Isso ocorre, segundo ele, porque o efeito maior da decisão dos gregos de romperem as negociações com credores, até um referendo previsto para o domingo, gera pressão pontual em ativos internacionais como câmbio e juros, além dos impactos, por exemplo, em captações externas.
Mas, de acordo com Campos Neto, a contaminação de uma eventual saída da Grécia da zona do euro para países emergentes como o Brasil é bem menor do que há três anos, justamente porque o risco de contágio na União Europeia também foi reduzido.
- Irlanda, Portugal e Espanha, por exemplo, fizeram lição de casa e a turbulência é muito menor, como uma consequência no Brasil menos intensa - disse.
- Mas a saída de um país da zona do euro, caso ocorra, por ser inédita, pode gerar consequências imprevisíveis e é preciso cuidado.
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Para Carlos Kawall, economista-chefe do banco J. Safra, apesar de a Grécia não afetar o Brasil diretamente, as incertezas sobre o futuro do país europeu geram turbulências nos mercados.
- Medidas como o controle de capital, fechar bancos e um referendo no qual ninguém sabe direito o que perguntarão adiam o desfecho das questões - disse.
- Mas os desfechos podem até não ser negativos, caso a população vote pela solução pedida pela União Europeia e a Grécia permaneça na zona do Euro - completou.
Já Fabio Silveira, diretor de pesquisa econômica da GO Associados, considera que o resultado imediato da crise grega é a alta do risco-país para todas as nações, principalmente para as emergentes, como o Brasil.
- A essa altura do campeonato, com tanta incerteza, é difícil dizer o quanto vai subir (o risco-país), mas vai aumentar o risco de financiamento das economias emergentes. Talvez suba menos para as que possuem maior capacidade de resistência e têm uma avaliação melhor - explicou.
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Silveira, no entanto, concorda com outros economistas e avalia que, apesar de o desdobramento da crise ainda ser uma incógnita, "o risco da Grécia já estava precificado" e a possibilidade de contágio mundial é bem menor que no passado.
- Não há o risco de contágio do passado recente porque naquela ocasião a Europa estava mergulhada profundamente na crise, com desemprego alto nas principais economias e até Alemanha estava sem dinamismo econômico - afirmou.
- Houve uma evolução mais compacta na economia e há um programa de incentivo e estímulo financeiro muito forte no sistema financeiro europeu, com grande liquidez e com maior resistência das economias mais frágeis locais - completou.
Estados Unidos
Campos Neto, da Tendências, e Silveira, da GO Associados, avaliam, no entanto, que um dos impactos pontuais da crise grega possa ser um novo adiamento da alta na taxa de juros nos Estados Unidos pelo FED, banco central daquele país.
- Tudo depende do tamanho do desdobramento (da crise da Grécia), mas o Fed pode não querer ajudar a ampliar a volatilidade e aguardar um pouco mais para subir os juros. Mas até isso é incerto, porque pode haver acordo (entre Grécia, credores e a União Europeia) - disse Campos Neto.
Para Silveira, a alta de zero para 1% nos juros norte-americanos parecia certa para 2015, mas o crescimento ainda modesto da economia dos Estados Unidos fez com que as expectativas de aumento caíssem gradativamente para um aumento a 0,25% este ano e outro, igual, em 2016.
- Agora, com a crise grega, a alta liquidez na Europa e a economia norte-americana ainda patinando, a possibilidade de não haver alta em 2015 é cada vez maior - concluiu Silveira.