Centenas de pessoas participaram, na manhã desta segunda-feira, da audiência para debater a legalização e regulamentação da maconha, prevista no PL 7270, do deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ). Por cerca de uma hora e meia, o deputado falou sobre política de drogas aos participantes, que ocuparam boa parte do Teatro Dante Barone, na Assembleia Legislativa.
Em Porto Alegre para participar de diversos eventos - além do debate da manhã desta segunda-feira, ele recebe uma homenagem da Câmara Municipal e discutirá o parto humanizado em outra audiência, à tarde - Jean Wyllys defendeu a legalização e regulamentação do consumo e da venda da maconha como forma de combater o crime organizado.
- Sou contrário à liberação das drogas. Hoje elas são liberadas, porque as pessoas podem comprar em qualquer lugar. A guerra às drogas, como política de estado, é falida - avaliou, pouco antes do começo do evento, organizado pelas deputadas Manuela D'Ávila (PC do B) e Miriam Marrone (PT).
A ideia vai de encontro à opinião de alguns especialistas, que defendem que, no mercado legal, a erva poderá custar mais, abrindo espaço para um comércio paralelo. Outro argumento contrário À legalização seria o de que os traficantes podem se reorganizar para vender entorpecentes ainda mais pesados e compensar a perda do negócio com a canabis.
Além de permitir o autocultivo e a criação de clubes canábicos, o PL 7270 prevê, ainda, a destinação dos tributos sobre a venda da maconha para centros de tratamento para usuários abusivos e projetos de educação para o consumo. A proposta tramita na Câmara dos Deputados.
Para o debate sobre política de drogas avançar, segundo o deputado, é importante que os usuários precisam "sair do armário".
- Muita gente fuma no país: artistas, políticos, jornalistas. Onde eles compram? Se a pessoa pode chegar em casa e tomar um Dreher para relaxar, por que ela não pode fumar um baseado? A maconha faz mais mal que o álcool? A ciência diz o contrário.
Jean Wyllys, respondeu, ainda a perguntas do público, em sua maioria jovem, que foram desde questionamentos sobre o conteúdo do projeto de lei a assuntos como internação compulsória de usuários de crack, rechaçada pelo deputado.
- Nenhuma internação compulsória funciona. A pessoa que cai no crack já não tem nada. Ela está ali pelo mesmo motivo que você se reúne com seus amigos em um bar: a socialização. É preciso usar isso para convencer essas pessoas a se tratarem. Elas têm que querer - ressaltou.
Diferentemente do último evento organizado por Manuela D'Avila (PC do B), um debate sobre ódio nas redes que acabou em confusão no Plenarinho da Assembleia, a audiência sobre legalização da maconha correu tranquilamente. Em função dos atritos que marcaram o evento anterior, quando um grupo iniciou uma discussão exaltada com os integrantes da mesa debatedora que antecipou o encerramento do debate, os organizadores exigiram inscrição dos participantes e apresentação de documento de identidade.
- Resolvemos pedir a inscrição, também para ter uma noção da quantidade de pessoas, saber se vai caber no espaço. Mas a gente sabe que essas pessoas - o grupo que iniciou a discussão no debate sobre ódio nas redes - são covardes - disse Manuela ao final do evento.
Pelo menos três envolvidos na confusão do Plenarinho assistiram ao debate no Dante Barone, mas não se inscreveram para fazer perguntas.
"Estamos vivendo uma epidemia de burrice", avalia Jean Wyllys
Em entrevista coletiva antes da audiência na Assembleia Legislativa, Jean Wyllys comentou outros temas polêmicos relacionados aos direitos humanos, como o Plano Municipal de Educação da Capital, aprovado sem prever a discussão sobre identidade e gênero nas escolas.
- Essa aprovação reflete o que aconteceu em relação ao plano nacional, que era consistente e acabou modificado por pressão das lideranças religiosas. Nos municípios, houve uma articulação dessas bancadas para que ocorresse a mesma coisa. Mas existe a lei e existe a vida. A escola continuará sendo um espaçode diversidade e conflito, quer eles queiram ou não. E os professores vão ter de lidar com isso.
Jean Wyllys manifestou, ainda, preocupação com o que considera uma "onda fascista" no país, causada, segundo ele por uma "cegueira coletiva". O deputado também destacou a importância de a esquerda "deixar de lado as diferenças" para se unir contra um "mal maior".
- Estamos vivendo uma epidemia de burrice. A gente acabou de se redemocratizar, e voltamos a um discurso de guerra fria. Como as pessoas podem achar que um governo que utiliza quase metade do dinheiro para pagar juros da dívida pública e que tem um ministro como Joaquim Levy pode ser comunista? As pessoas não pensam, e isso é muito preocupante - disse, em entrevista coletiva na Assembleia Legislativa.
Em relação ao projeto que prevê a redução da maioridade penal para crimes hediondos e deve ser votado nesta terça-feira, Jean Wyllys disse acreditar que a proposta, rejeitada pelo seu partido, seja derrubada.
- A gente está superanimado. Fizemos um mapa, e contabilizamos 270 deputados que são contra a redução da maioridade penal. Tem figuras importantes aderindo a isso, e acho que vamos vencer.
À tarde, o deputado do Psol participa, também na Assembleia Legislativa de uma audiência sobre o parto humanizado, tema do projeto de lei 7633, de sua autoria.