O desafio é grande, propõe uma mudança de hábitos de comerciantes, comerciários e consumidores. A proposta de abrir as portas do comércio no centro da cidade, um domingo por mês, foi detalhada na quinta-feira no lançamento oficial do Projeto Soma, que traduz um novo pensamento da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e do Sindicato dos Lojistas do Comércio Varejista da Região Centro (Sindilojas).
O domingo de estreia do projeto será o do dia 12 de julho. Até lá, executivos e diretores da CDL e do Sindilojas devem visitar os cerca de 100 comerciantes localizados nas ruas prioritárias do projeto, para apresentar a iniciativas e buscar a adesão deles. A ideia divide opiniões dentro do setor e é bem recebida pelos consumidores. Para montar o projeto foram coletados dados de outras cidades que abrem aos domingos (veja mais no infográfico abaixo).
Os dirigentes afirmam que o objetivo não é o de "afastar a crise", mas criar um novo ambiente para o setor e ser, cada vez mais, uma referência regional. Além disso, é ocupar o espaço público com famílias circulando pelas ruas Dr. Bozano, Acampamento, Floriano Peixoto e Avenida Rio Branco no domingo. A falta de eventos para a família na área central acaba levando muita gente para os shoppings, e deixando o Centro deserto.
- Antigamente, quando o comércio era livre, abríamos sempre. Antes do Natal, as lojas ficavam abertas até a meia-noite. Depois mudou. Agora, temos de pensar todos os lados, se vale a pena e fazer um equilíbrio também com o interesse do funcionário - afirma o empresário Mario Gayger.
O comando regional da Brigada Militar é parceiro do projeto e afirma que vai intensificar o policiamento nos domingos de abertura. A BM saúda a iniciativa como sendo importante para deixar o local livre do vandalismo e da falta de segurança.
Atrações culturais
Além das lojas, a ideia é trazer atrações culturais como música, teatro e artes circenses para as ruas do Centro. Para não repetir experiências negativas de abertura, devem ser usadas estratégias novas, como promoções exclusivas, ampla divulgação, descontos em restaurantes e hotéis.
- Queremos abrir as portas aos domingos, não é só para vender, é muito mais que isso. A sociedade vem mudando, e promover esses eventos é incentivar o convívio social das famílias. Não queremos que o nosso Centro tenha o destino de outros centros históricos, que se tornam lugares perigosos - afirma o presidente eleito da CDL, Ewerton Falk.
Abertura pode acompanhar outros eventos
A inteção é integrar o Projeto Soma a outras iniciativas que já existem na cidade aos domingos. Na próxima semana, o executivo da CDL Carlos Vargas deve encontrar-se com as secretárias de Cultura, Marília Chartune, e de Turismo, Norma Moesch, para discutir formas de fazer essa aproximação.
Um dos caminhos pode ser aproveitar para abrir junto com outros eventos culturais e religiosos que ocorrem na cidade, normalmente aos domingos, como a Romaria da Medianeira e outras inciativas espontâneas, como a Vila Gastronômica e o Brique da Vila Belga.
Conforme a secretária de Turismo, Norma Moesch, ainda não há estatísticas sobre o número de pessoas de fora que passam por Santa Maria nos fins de semana,
- Hoje, as pessoas que vêm visitar seus filhos no fim de semana ou participar de outros eventos só podem ir à farmácia. A demanda reprimida é imensa - afirma Norma.
Calçadão "coberto"
Outro atrativo que pode ser implementado no futuro é a cobertura do Calçadão, a exemplo da Rua Coberta, em Gramado. A ideia surgiu há muitos anos, mas, agora, reaparece com novos contornos.
O projeto está sendo desenvolvido por um grupo de jovens arquitetos voluntários. Embora já esteja sendo desenhada, a cobertura depende de discussões com a comunidade e outros trâmites para ser implementada.
Iniciativa divide lojistas e comerciários
A reportagem do "Diário" percorreu o Centro e conversou com lojistas e funcionários. A resistência é maior entre os empresários do que entre os trabalhadores. Respeitada a legislação, que prevê a compensação com uma folga e o pagamento de hora extra, o funcionamento das lojas no domingo é liberado.
- Se forem poucas lojas abertas, não funciona. O gasto é grande e significa pagar para trabalhar. Mas se entrar na rotina, pode ser bom - afirma o sócio-proprietário da Athena Livraria, Rafael Kliemann.
A gerente da Gang, Lizi Carneiro, também acredita que não vale a pena, mesmo em datas comerciais. Já a vendedora Janaína Ruviaro não se importaria em trabalhar no domingo:
- Se tiver movimento e for melhor para a empresa, por mim não tem problema.
Por conta de atrações como cinema, restaurantes e fliperamas, os shoppings se tornaram uma das principais atrações dos santa-marienses aos domingos. Embora pudessem ver o Projeto Soma como concorrência, os quatro shoppings da cidade já manifestaram apoio à iniciativa:
- Não cabe todo mundo no shopping. O Santa Maria, inclusive, já manifestou que deve abrir suas lojas dentro do projeto - afirma o presidente da CDL Ewerton Falk, acrescentado que recebeu o apoio da direção dos shoppings da cidade.