O atropelamento fatal de uma trabalhadora na BR-290, no trevo de acesso a Eldorado do Sul, ontem cedo, escancara a precariedade do tratamento dispensado aos pedestres nas rodovias da Grande Porto Alegre. Ana Clarice da Silva Araújo, 46 anos, estava a caminho do trabalho quando foi atingida por um automóvel Santana. Caída na pista, ainda foi atropelada por outros carros, morrendo no local.
O acidente aconteceu na altura do Km 108, onde as pessoas precisam enfrentar o fluxo intenso de veículos para atravessar, já que não existe passarela nas proximidades. Responsável pelo trecho, a Triunfo-Concepa se defende com o argumento de que construiu as cinco passagens para pedestres previstas pelo contrato de concessão. Ocorre que o compromisso é antigo e já não atende às necessidades geradas pelo crescimento populacional e econômico da região. Fato reconhecido pela própria concessionária.
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Vida em jogo
No ano passado, a empresa pediu à Associação Nacional de Transportes Terrestres melhorias no trecho de Eldorado, que envolvem a construção de nova passarela, a instalação de iluminação pública no canteiro central e a construção de novo acesso ao município. Como não estão previstas em contrato, as obras dependem da aprovação da agência, o que ainda não aconteceu. Um outro aspecto que precisa ser considerado é o limite de velocidade de 100km/h para carros leves.
A BR-290 não é a única a oferecer esse risco na Região Metropolitana. A BR-116, entre Esteio e São Leopoldo, também dispõe de número insuficiente de passarelas. Em alguns pontos, a única proteção é uma abertura deixada no muro que divide a rodovia. Nesses locais, o desencontro da divisória forma uma espécie de "trincheira" no canteiro central. Mas a travessia tem que ser feita em meio aos carros.
Essa falta de cultura na proteção ao ser humano contamina o próprio pedestre: para encurtar caminho, muitos relutam em utilizar as passarelas já existentes.