Será curta a interrupção nas viagens de ônibus de imigrantes haitianos e senegaleses que estão concentrados em um abrigo em Rio Branco, no Acre, para o sonho de uma vida nova em Porto Alegre.
O governo acriano cancelou, na quinta-feira, as jornadas previstas a pedido da prefeitura da capital gaúcha. A alegação é de que a greve dos municipários em Porto Alegre dificultaria a formação de uma rede de acolhimento. Mas as autoridades acrianas asseguram que não há tempo a perder.
- Em tese, vamos retomar na segunda ou terça-feira. Não podemos demorar muito. Se isso acontecer, as pessoas não saem do abrigo e, ao mesmo tempo, novos imigrantes não param de chegar. São cerca de 40 por dia. Não há como suportar. No teto, podemos abrigar 200 pessoas. Depois disso, é só caos - afirmou Nilson Mourão, secretário dos Direitos Humanos do governo estadual do Acre.
No momento, o alojamento disponibilizado aos imigrantes está com uma população de quase 600 pessoas, o triplo da capacidade. A superlotação causa problemas como precariedade nas acomodações, falta de água e parcas condições sanitárias, o que coloca em risco a saúde de pessoas já vulneráveis.
- Não temos mais como segurar. O espaço é pequeno, as caixas d'água não suportam, os colchões estão deteriorados. Tinha de pegar todos (colchões) e fazer uma fogueira, não tem um que preste. Precisamos de 600 colchões novos, mas o Estado não tem mais condições de repor - relatou Mourão, que admite a precariedade do local.
Se mantida a previsão, a partir de segunda-feira devem sair oito ônibus de Rio Branco com direção a Porto Alegre. No total, eles irão transportar 352 imigrantes. A maioria descerá na capital gaúcha, em Florianópolis e Curitiba. Mais recentemente, grupos minoritários, ou por vezes apenas uma pessoa, passaram a desembarcar também nas paradas previstas em Porto Velho e Cuiabá.
Dois veículos lotados deixaram Rio Branco na quinta-feira à noite com direção ao Sul, mas Mourão assegura que, devido ao pedido da prefeitura, eles não irão até Porto Alegre. Seu destino final será Curitiba. Apesar disso, alguns imigrantes embarcaram acreditando que poderiam chegar ao Estado. Mourão está em contato diário com Luciano Marcantonio, secretário dos Direitos Humanos no governo Fortunati, para acertar os últimos detalhes.
Caso a partida se confirme na segunda-feira, a previsão é de que a chegada no Rio Grande do Sul ocorra entre a noite de quinta e a madrugada de sexta-feira. O destino mais frequente dos imigrantes é São Paulo, para onde as jornadas também foram interrompidas nesta semana, após ônibus chegarem sem aviso prévio. Depois, as preferências são por Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, lugares em que os imigrantes preenchem a escassez de mão de obra em setores como agroindústria e construção civil.
Nos seus países, haitianos e senegaleses enfrentam pobreza e desemprego. Migram ao Brasil pela política de fronteiras abertas, enquanto Estados Unidos e Europa estão restringindo as migrações. Para chegar ao Brasil, a maioria atravessa Equador e Peru, cruzando áreas de selva, com redes de coiotes. O ingresso no Brasil se dá pelo Acre, na cidade de Assis Brasil, na fronteira com o Peru.