Luiz Henrique da Silveira (PMDB) fez política até o fim. Sábado, véspera dos ataques cardíacos que resultaram em sua morte aos 75 anos, o senador trabalhava na missão de reaproximar o governador Raimundo Colombo (PSD) do vice Eduardo Pinho Moreira (PMDB) e recolocar no prumo a intrincada aliança política que desenhou e que governa o Estado desde 2006.
PMDB catarinense encara desafio político com a morte de Luiz Henrique
Morte de Luiz Henrique: políticos postam homenagem ao senador
Não poderia ser diferente. Desde 1970, quando disputou sua primeira eleição para deputado estadual, Luiz Henrique viveu diariamente a política em suas diferentes esferas. Mesmo depois de uma trajetória que o guindou cinco vezes à Câmara dos Deputados, três à prefeitura de Joinville, duas ao governo do Estado e ao atual mandato de senador, o peemedebista poderia perder horas tentando arbitrar uma disputa entre vereadores do partido.
Foi exercendo com maestria a arte de ouvir, conversar e articular acordos, que Luiz Henrique se tornou o principal nome da política catarinense contemporânea. Sua morte encerra um capítulo da história de Santa Catarina que vai além dos oito anos em que governou o Estado e dos últimos cinco em que atuou como fiador da aliança política entre PMDB e o DEM, depois PSD, sócios majoritários da coalizão política que dá sustentação ao governo de Raimundo Colombo.
Esse protagonismo ganhou forma em 2002. O então governador Esperidião Amin (PPB) era considerado favorito à reeleição e pilotava uma ampla aliança. Mesmo coligado ao PSDB, LHS acabou favorecido pelo crescimento do PT, que o apoiou no segundo turno. Por cerca de 20 mil votos, o peemedebista venceu uma disputa considerada impossível. No governo, tentou consolidar a composição com os petistas. Foi essa articulação fracassada que levou Luiz Henrique a construir a aliança que governa o Estado até hoje: ao atrair para a base governista o bancada do então PFL, ele pavimentou uma aliança como então senador Jorge Bornhausen e a coligação com os antigos adversários históricos.
- Na época erámos oposição e passamos apoiar o governo. Essa mudança ocorreu pela sua grande capacidade de diálogo - lembra Gelson Merisio (PSD), hoje presidente da Assembleia.
Como resultado, Luiz Henrique acabou reeleito em nova disputa contra Amin, desta vez apoiado pelos seus antigos rivais. Mediando conflitos pontuais, sua especialidade, ele conseguiu manter a chamada tríplice aliança - PMDB, PSDB e PFL/DEM - até a primeira eleição de Raimundo Colombo ao governo, ainda pelo DEM. Quatro anos depois, lutou e garantiu a manutenção da coligação, já sem os tucanos e com Colombo abrigado ao PSD.
Este ano, ousou buscar o protagonismo nacional ao encarar uma disputa com Renan Calheiros (PMDB-AL) pela presidência do Senado. Articulou dissidências na base governista, aglutinou a oposição, mas foi derrotado por 49 votos a 31. Mesmo perdendo, consolidou-se como referência e mirava a próxima disputa - quando poderia igualar o feito do catarinense Nereu Ramos, que também presidiu o Senado.
Enquanto projetava o futuro, tentava cuidar de sua base. Eram 23h de sábado quando ligou para Colombo. Estava em Itapema, em sua casa de praia, onde havia conversado com Pinho Moreira por cerca de duas horas. A relação do governador e do vice está estremecida desde a entrevista em que Moreira disse não ter espaço na gestão, há duas semanas.
- Na nossa última conversa, mostrou-se mais uma vez o companheiro de sempre, conciliador e respeitador - lembrou Moreira.
- Luiz Henrique me ligou. Estava bem. Falamos sobre diversos assuntos. Estou profundamente comovido - afirmou Colombo.
Aproximar os dois, manter em pé a obra que criou, foi a última missão de Luiz Henrique. Missão encerrada simbolicamente às 15h15min de domingo, com a morte do senador em Joinville. Curiosamente, repetindo o número do partido em que sempre militou. Colombo e Moreira se reencontram em seu velório. A partir desta segunda-feira, está vago o papel de fiador da aliança governista.