A decisão da Irlanda, país majoritariamente católico, de aprovar o casamento de pessoas de mesmo sexo em referendo na sexta-feira ocorre cinco meses antes da assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos, entre 4 e 25 de outubro. O tema do Sínodo é "A vocação e a missão da família na Igreja do mundo contemporâneo", e seus debates incluirão a atitude da Igreja em relação aos gays.
A amplitude do voto irlandês em favor do casamento gay - 62% a favor contra 38% contrários, num país em que o homossexualismo foi crime até 1993 - acende no interior da Igreja local um debate que já ocorre em âmbito mundial: por que as posições católicas tradicionais perdem espaço mesmo em seus redutos?
Irlanda aprova em referendo o casamento entre pessoas do mesmo sexo
Arquiconservadores dizem que o problema não está no ideário, e sim na atitude conciliadora do atual Papa - o que já vem sendo chamado de "efeito Francisco". Progressista criticam essa mesma atitude por ser tímida e pregam o pleno reconhecimento de direitos como os dos gays. Mas há uma parcela que, sem se situar em nenhum dos dois extremos, reconhece a necessidade de mudança. É o caso do arcebispo de Dublin, Diarmuid Martin, que disse:
- A Igreja tem de encontrar uma nova linguagem que possa ser entendida e ouvida.
Os escândalos de pedofilia na Igreja, dos quais a Irlanda constituiu um triste capítulo, abalaram a hierarquia católica no país. Mas não é só isso que explica o caso irlandês. Nos últimos 30 anos, o mundo católico oficial ignorou o fato de que a questão da diversidade se converteu gradativamente em um movimento global por direitos. O que está em questão não é o futuro desse movimento - ele já é vitorioso -, e sim a capacidade da Igreja de se adaptar aos acontecimentos.
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Luiz Antônio Araujo: voto irlandês
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