Hipocrisia é um dos ingredientes mais abundantes nos lamentos pelo destino de relíquias históricas do Iraque e da Síria diante do avanço do dito Estado Islâmico (EI). No caso do Iraque, o saque ao patrimônio histórico e cultural começou muito antes da existência do EI: data do momento mesmo em que as forças americanas entraram em Bagdá, em abril de 2003.
Um levantamento feito por iniciativa do próprio governo americano na época da invasão listou entre 14 mil e 15 mil peças roubadas do Museu do Iraque. A pilhagem teria sido obra de pelo menos três grandes grupos: ladrões profissionais (miraram tesouros valiosos), vândalos (surrupiaram cerca de 3 mil artefatos arqueológicos) e empregados do próprio museu (interessados em joias e cilindros de selo).
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Patrimônio artístico e cultural sempre foi alvo fácil durante conflagrações. Em 2012, centenas de obras de arte suspeitas de terem sido pilhadas pela Alemanha foram descobertas na casa do filho do famoso colecionador Hildebrand Gurlitt, negociador de "arte degenerada" durante a era nazista, em Munique.
Hitler exigiu que Paris fosse arrasada em 1944 (como ocorreria com Varsóvia), e as maravilhas da capital francesa só sobreviveram porque a ordem foi desobedecida. Os museus do Afeganistão foram arrasados nos últimos 20 anos. Pouco resta da arte do período Khmer no Camboja depois que o Depósito de Conservação de Angkor foi arrasado pela guerra civil nos anos 1970.
Estado Islâmico assume controle total da cidade síria de Palmira
Nada disso absolve o EI de seus crimes flagrantes contra o patrimônio cultural, como os registrados em Mossul, Nínive e Nimrod. Em artigo publicado na revista The New Yorker, o repórter americano Dexter Filkins lembra de ter visitado Palmira em 2003 e pensado que, afinal, o ditador Bashar al-Assad merecia crédito por deixar o oásis em paz - algo que provavelmente não poderá ser dito em relação ao EI.
A ironia é que, entre domingo e quinta, as forças de Al-Assad parecem ter simplesmente fugido de Palmira. Agora, só um milagre pode salvar a cidade histórica.
O Instituto Latino-americano de Estudos Avançados da UFRGS promove hoje às 14h a conferência "A Construção do Brasil", no Auditório Prof. Castilho, prédio 72 do Campus do Vale, com os professores Luiz Carlos Bresser-Pereira, Hélgio Trindade e André Marenco. Conselho a quem gosta de silenciar debate e erradicar inteligência: fique fora dessa vez.