Porto Alegre se prepara para receber haitianos e senegaleses na madrugada de domingo. A previsão de desembarque foi informada pela empresa Eucatur, que transporta os refugiados. Dois ônibus saíram na quinta-feira de Rio Branco (AC), e outro veículo iniciou viagem na noite desta sexta-feira.
A expectativa de chegada do primeiro grupo no domingo provocou uma reação de surpresa na prefeitura. Conforme o secretário municipal de Direitos Humanos, Luciano Marcantônio, um acordo firmado com o governo do Acre estabeleceu que os veículos (são pelo menos oito) iriam sair apenas a partir de segunda-feira. Com pouco tempo para se organizar, prefeitura, Estado e entidades montam uma operação para receber os imigrantes.
- Vamos levar até a rodoviária facilitadores, haitianos que vão fazer a primeira abordagem. A prefeitura estará lá de madrugada, com possibilidade de encaminhar os imigrantes ao alojamento da Brigada Militar, na Avenida Aparício Borges - afirmou Marcantônio.
No Acre, o secretário dos Direitos Humanos do governo estadual, Nilson Mourão, disse que o destino final dos imigrantes seria Curitiba. Os que viriam para Porto Alegre, iniciariam viagem a partir de segunda, informação contestada pela Eucatur e por Marcantônio.
A realidade na Chácara Aliança, em Rio Branco, onde fica o alojamento dos refugiados, é confusa e contraditória. Em torno das 19h desta sexta-feira, um coletivo da empresa Eucatur, que faz o traslado até o sul do Brasil, estava estacionado na ruela de chão batido que leva ao abrigo. Os assentos já estavam tomados, restava apenas a conferência dos nomes dos passageiros quando ZH questionou ao motorista o destino do veículo de placa NCU 4112, de Ji-Paraná (RO):
- Porto Alegre - respondeu o homem.
A pergunta foi refeita, com a intenção de confirmar se o ônibus não se limitaria a chegar em Curitiba ou Florianópolis.
- Vai passar por lá. É caminho, mas é para Porto Alegre - reforçou o profissional.
Logo depois, um dos funcionários do governo estadual, de colete verde, informou o contrário. Depois da capital catarinense, daria meia volta e não seguiria ao Rio Grande do Sul. Ele ainda explicou que não haverá como coibir em caso de grupos de imigrantes se reunirem em Florianópolis para tomarem um ônibus por conta própria para seguir a Porto Alegre.
Mourão afirmou que o alojamento onde estão os haitianos e senegaleses encontra-se em situação precária:
- Não podemos demorar muito. Se isso acontecer, as pessoas não saem do abrigo, e novos imigrantes não param de chegar. São cerca de 40 por dia. Não há como suportar. No limite, podemos abrigar 200 pessoas. Depois disso, é só caos - justificou Mourão.
No momento, o alojamento está com quase 600 pessoas. A superlotação causa problemas como precariedade nas acomodações, falta de água e parcas condições sanitárias, o que coloca em risco a saúde de pessoas já vulneráveis.
- O espaço é pequeno, caixas d'água não suportam, colchões estão deteriorados - afirmou Mourão.
Ao todo, está prevista a ida de oito ônibus rumo a Porto Alegre, que irão transportar 352 imigrantes. A maioria descerá na capital gaúcha, em Florianópolis e Curitiba. O destino mais frequente dos imigrantes é São Paulo, para onde as jornadas foram interrompidas nesta semana, após ônibus chegarem sem aviso prévio.
Marcântonio disse que uma empresa já entrou em contato com a prefeitura para contratar 50 imigrantes.
* Colaborou Kyane Vives