O som dos martelos e das picaretas rompeu o silêncio no Cemitério Municipal de Restinga Seca na gelada manhã de ontem. À pedido da Justiça, foi determinado que o túmulo onde estava sepultada a economista e ex-secretária de Finanças da cidade Madalena Dotto Nogara, 55 anos, fosse aberto para a exumação do seu corpo. Ela foi morta em julho do ano passado. O suspeito, que confessou o crime, é o juiz aposentado Francisco Eclache Filho, com quem Madalena estava casada há 54 dias.
O pedido de exumação foi feito pelo promotor de Justiça da Comarca de Restinga, Sandro Loureiro Marones, e pelo assistente de acusação, Bruno Seligmann de Menezes, advogado da família da vítima. Cerca de uma hora depois do início do trabalho no cemitério, o corpo de Madalena estava no carro do Instituto-Geral de Perícias (IGP), que teria como destino Porto Alegre, onde será examinado por médicos legistas.
O objetivo da exumação é esclarecer a dúvida sobre onde entrou uma das balas que acertaram a cabeça de Madalena. Segundo o advogado e o promotor, em um dos laudos, a informação é de que o disparo atingiu uma área perto da orelha direita, porém, a necropsia apontou que o tiro teria entrado próximo à orelha esquerda.
- Notei a imprecisão em dois laudos: no exame pericial de local de morte e no auto de necropsia. Alertei e pedi que os peritos explicassem. Eles disseram que não havia mais condições, a não ser se fosse feita a exumação. A família está bastante machucada, sentida, mas explicamos que é um passo necessário, para que não pairem dúvidas sobre a regularidade da investigação - explica Menezes.
- Existe um orifício de entrada e um orifício de saída. O auto de regiões anatômicas é feito conforme as normas de medicina legal, basta complementar isso aí. Entendemos que foi uma falha, um erro material de algum dos peritos na hora de preencher o primeiro documento - reforça o promotor.
Conforme o perito Luiz Paim, responsável pela retirada do corpo e pelo translado até Porto Alegre, o corpo de Madalena será examinado por médicos legistas para descobrir o trajeto do projetil. O novo laudo tem prazo de 90 dias para ser entregue. O retorno do corpo para Restinga Seca depende da demanda do IGP.
O IGP não quis falar sobre os procedimentos que serão realizados. Segundo a Assessoria de Comunicação do órgão, casos como esse correm em segredo de justiça e a legislação veda qualquer manifestação sobre o trabalho realizado.
Sem curiosos
No cemitério de Restinga, a ação foi acompanhada por aproximadamente 15 pessoas. Havia
uma preocupação de que curiosos atrapalhassem o trabalho. Mas não foi o que aconteceu.
Diferentemente do que ocorreu em 25 de agosto do ano passado, quando haveria uma reconstituição do crime na casa da vítima, nenhum curioso foi até o local. Mesmo assim, uma equipe com cinco policiais do Batalhão de Operações Especiais (BOE) de Santa Maria, três policiais militares de Restinga Seca e policiais da delegacia da cidade foram até o local para garantir que tudo transcorresse normalmente. Além deles, estavam presentes membros da promotoria de Justiça, o advogado de defesa do juiz e a imprensa. Familiares da vítima não acompanharam a ação.