Cresce a quantidade de jovens que desiste de seguir a profissão escolhida para tentar a sorte em concurso público. São os chamados concurseiros, candidatos que vão de seleção em seleção até conseguir a aprovação. Eles têm entre 18 e 30 anos, são de ambos os sexos, mas, na maioria, mulheres (60%), e enxergam na carreira pública a rapidez para ingressar no mercado de trabalho e a conquista da estabilidade no emprego.
Sem contar o salário, é claro: mesmo os concursos mais modestos oferecem vencimentos iniciais maiores que os proporcionados pela iniciativa privada para funções semelhantes. Por conta dessas vantagens, tem concurseiro que percorre o Brasil atrás das vagas mais atraentes.
O contingente cresceu tanto que já permitiu a criação de uma rede de serviços especializados. As ofertas vão desde publicações e cursos preparatórios até os chamados coachs, profissionais especializados em orientar as pessoas interessadas em passar em seleções públicas. Além de auxiliar nas questões teóricas, esse treinador também constrói um plano individual para cada candidato, atentando para possíveis obstáculos capazes de atrapalhar o inscrito durante o processo de preparação.
Chances iguais
A atração pelos concursos é antiga, mas cresceu a partir de 2008, quando a crise mundial reduziu a oferta de bons empregos no setor privado. Desde então, a cada semestre, um número cada vez maior de recém-formados desiste de ingressar na área de formação para intensificar os estudos visando o ingresso no serviço público.
Com isso, é claro, aumentou a concorrência. Hoje tem jovem antecipando a pós-graduação para ampliar os conhecimentos e se preparar melhor para as provas. De um lado, o comportamento é positivo, pois garante o ingresso de pessoas qualificadas no serviço público. Não tem apadrinhamento. Os concursos oferecem a mesma chance para todos os interessados, independentemente de raça, cor e classe social. Entra quem tirar as melhores notas nas provas.
O que preocupa é saber que muitos jovens apostam nesse caminho pelo motivo errado, apenas pela garantia de emprego e salário. É uma escolha feita por falta de opção, jamais pelo desejo de servir o país. E gente que abandona seus sonhos em troca de comodidade não dá certo em lugar algum. Acaba virando um servidor frustrado e ineficiente, legítimo peso-morto a ser bancado pela sociedade pelo resto da vida.