O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa depôs, na tarde desta terça-feira, pela terceira vez à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Ele reiterou, diversas vezes, que está arrependido pelos atos ilícitos que cometeu na empresa e isentou a estatal de responsabilidade pelo esquema de desvio de dinheiro e pagamento de propina.
- Nada disso teria acontecido se não fossem alguns maus políticos. A origem do que aconteceu na Petrobras foram maus políticos, que fizeram tudo isso acontecer - disse.
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Ele destacou que não são todos os políticos e que os deputados têm, agora, a oportunidade de romper com o que chamou de "sistema podre".
- Não foi o diretor da Petrobras quem inventou o cartel. A origem da corrupção está em Brasília (...). Vocês do Legislativo têm papel fundamental para que isso seja redimido.
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Segundo o ex-diretor da estatal, dos 35 anos em que trabalhou na Petrobras, apenas nos últimos sete ele teve contatos e envolvimento com políticos, o que fez com que ele fosse nomeado diretor.
- Não se chega à diretoria da Petrobras sem apoio político. Tive a infelicidade de aceitar apoio político para chegar lá e me arrependo.
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Costa lista 28 políticos com quem teria tido relação ilícita
O deputado Ivan Valente (Psol-SP) leu os nomes dos 52 políticos investigados em inquéritos abertos pelo Ministério Público Federal, dos quais Paulo Roberto Costa admitiu ter tido relações ilícitas, que implicavam em pagamento de dinheiro, com 28 políticos:
- os senadores Ciro Nogueira (PP-PI), Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR), Edson Lobão (PMDB-MA), Valdir Raupp (PMDB-RO), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Humberto Costa (PT-PE), Lindberg Faria (PT-RJ), Fernando Bezerra (PSB-PE);
- os deputados Benedito de Lira (PP-AL), Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Simão Sessim (PP-RJ), Luiz Fernando Faria (PP-MG), José Otavio Germano (PP-RS), Mário Negromonte (PP-BA), Aníbal Gomes, Eduardo da Fonte (PP-PE), Arthur Lira (PP-AL), Nelson Meurer (PP-PR);
- os ex-deputados Pedro Corrêa (PP-PE), Pedro Henri (PP-MT), Cândido Vaccarezza (PT-SP) e João Pizolatti (PP-SC);
- os ex-senadores Sérgio Guerra (PSDB-PE), já falecido, e Roseana Sarney (PFL-MA);
- o ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo (PT);
- o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB); e
- o atual governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB).
Paulo Roberto Costa disse não conhecer outros políticos investigados pelo Ministério Público, como o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
- Não convocamos ainda nenhum político. Vou exigir que a gente convoque as pessoas mencionadas por ele - disse Ivan Valente.
Antes disso, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) anunciou que vai protocolar um requerimento pedindo a convocação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, segundo ele, seria o responsável pelos investimentos da Petrobras desde 2003 na construção de refinarias, plataformas, navios-sonda e gasodutos.
Maior problema da Petrobras não foi a Lava-jato, diz Costa
Costa disse que o maior problema financeiro da estatal nos últimos anos não foram os R$ 6 bilhões desviados em esquema de corrupção e admitidos no balanço financeiro da empresa. Ele disse que o maior problema é o rombo de mais de R$ 60 bilhões provocado pela defasagem dos preços de combustíveis vendidos pela Petrobras e definidos pelo governo.
- A (Operação) Lava-Jato é uma coisa repugnante, que não devia acontecer. Mas o maior problema da Petrobras, que arrebentou a Petrobras, foi o preço dos combustíveis, que o governo segurou. O rombo detectado na Lava Jato é apenas 10% desse valor. O governo manteve os preços congelados e arrebentou com a empresa - disse Costa.
Ele afirmou que levou várias vezes estudos propondo reajuste de preços dos derivados da Petrobras, mas que as propostas foram rejeitadas pelo então presidente do Conselho Administrativo, Guido Mantega, que foi ministro da Fazenda.
E-mail para Dilma não tinha ligação com esquema
Costa admitiu à CPI da Petrobras ter enviado, em 2009, um e-mail a Dilma Rousseff, então ministra-chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobras, alertando para o risco de paralisação de obras da estatal. Ele afirmou, no entanto, que o e-mail não tinha relação com o esquema de desvio de dinheiro.
Na mensagem, Costa alertava a então ministra de que o Tribunal de Contas da União (TCU) pretendia paralisar três obras da Petrobras por ter encontrado irregularidades. O documento foi encontrado pela Polícia Federal em um computador na sede da estatal.
O deputado Bruno Covas (PSDB-SP), um dos sub-relatores da CPI, perguntou se o e-mail tinha relação com o esquema de desvio de dinheiro, e Costa negou.
- Como diretor de Abastecimento, não estava preocupado com desvio de dinheiro. Estava preocupado porque, se tivesse paralisação das obras, isso teria consequências. Nossos terminais, como o de Angra dos Reis, foram feitos para importação de petróleo e não de derivados. E as obras eram necessárias. Era de competência da minha diretoria o abastecimento do País - explicou.
O deputado perguntou, em seguida, se era verdade que ele tinha sido convidado para o casamento da filha da presidente.
- Sim, fui convidado e participei - respondeu.
Responsabilidade da diretoria executiva da Petrobras
O ex-diretor disse que toda a diretoria executiva deveria ser responsabilizada por eventuais erros nas contratações ou assinaturas de aditivos com empresas vencedoras de licitação. Segundo ele, nenhum diretor tinha autonomia para decidir sobre projetos,
Costa voltou a dizer que os aditivos eram feitos devido a inconsistências dos projetos básicos de engenharia. Ele atribuiu as falhas dos projetos à pressa da diretoria da Petrobras.
- O Brasil estava importando muita gasolina e diesel, e isso foi o que motivou a pressa nas contratações - disse, ao se referir à construção de refinarias, gasodutos e navios-plataforma.
Ex-diretor diz que houve propina para PP e PSDB
Costa confirmou à CPI teor de depoimento que havia prestado à Justiça Federal, em que acusa o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) e o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, já falecido, de cobrança de propina para evitar investigações de uma comissão parlamentar de inquérito no Congresso.
Ele disse não saber se era uma CPI da Câmara ou CPI Mista - com participação de senadores - mas afirmou que o pagamento foi feito. Costa não mencionou a quantia, nem a maneira como esse dinheiro teria sido pago, mas garantiu ter sido informado do pagamento pela empresa Queiroz Galvão.
Segundo ele, o encontro com Sérgio Guerra foi intermediado por Eduardo da Fonte e teria ocorrido em um hotel no Rio de Janeiro.
- Recebi um pedido do deputado Eduardo da Fonte, do PP de Pernambuco, que pediu para se encontrar comigo e, chegando lá, estava também o senador Sérgio Guerra. Eles me disseram que estava ocorrendo uma CPI sobre a Petrobras e que isso poderia ser minorado ou postergado, mas que precisava ter um ganho, um ajuste financeiro - disse.
Procurado, o deputado Eduardo da Fonte disse que não iria falar agora para não prejudicar sua defesa.
O ex-diretor também confirmou financiamento da campanha de Sérgio Cabral e Pezão, no Rio de Janeiro, e de Eduardo Campos, com dinheiro do esquema da Petrobras, conforme ele havia afirmado durante sua delação premiada - relatos ainda pendentes de confirmação.
Doação de campanha feita por empresa é "empréstimo"
Costa disse que doações de campanha feitas por empresas a partidos políticos não passam de uma espécie de "empréstimo" - como já tinha dito em depoimentos de delação premiada.
- Não existe doação que depois a empresa não queira recuperar. Isso foi dito a mim por empresários. (...) Por que uma empresa vai doar R$ 20 milhões para uma campanha, se lá na frente ela não vai querer isso de volta? Não existe almoço grátis - concluiu.
* Agência Câmara e Estadão Conteúdo